As almas se encontram enfermas de uma terrível enfermidade: a fatiga e o horror a verdade. Nas almas que todavia são cristãs, esta enfermidade se manifesta por uma ausência de horror a heresia, por uma complacência no erro. (Louis Veuillot)
Um olhar de relance para o ambiente moral e espiritual em que mergulha a nação, e a civilização outrora chamada cristã, causa calafrios até no maior dos otimistas.
A angústia que permeia mormente a juventude sugere duas indagações dignas de análise acurada: Há ainda princípios imutáveis? Existe ainda alguma verdade, já que tudo é contestado?
Antes de atentarmos para está problemática, façamos uma pequena digressão.
A virtude da temperança e do comedimento exasperou-se das almas. Há todos os ventos se proclama que o importante é gozar, ganhar a vida; desfrutar ao máximo todas as delicias da "sociedade de consumo", como no-lo demonstra com acuidade Marcel de Corte. O acessório é preterido ao essencial.
O ser enclausura-se nos estreitos limites do contigente e nada indaga acerca de sua finalidade que segundo a ordem natural é a sua transcendência. "A existência pura, o simples fato de existir é manifesto, o donde e para onde do ser permanecem ocultos", dizia Heiddeger.
O que se denota é que o homem de hoje, em geral, sabe cada vez menos ao que está preso. Tornou-se um ser errante que procura na aventura o que ele é.
"Mutantur non in melius, sed in aliud"; eles procuram não o que há de melhor, mas o que há de novo, leciona Sêneca.
A mutação tornou-se crônica. No âmbito da religião – a verdadeira – veio o Concílio Vaticano II e jogou no ossuário da história verdades que até então eram incontestáveis. No plano temporal, veio a Revolução Cultural dos revoltados de Sorborne e o caos tomou conta dos costumes. A onda de mutações trouxe consigo seu corolário, ou seja, a contestação.
O divórcio foi proclamado a todos os ventos como uma conquista. Hoje, quem não se pergunta terrificado: será que eu posso amar? Será que fulano (a) ser-me-á fiel? Existe amor? Se não existe amor e tampouco fidelidade nas relações entre homem e mulher, infere-se que o prazer se tornou regra. Daí, tinha razão Bergson quando dizia que "o amor está tanto mais doente quanto nossa civilização se tornou afrodisíaca".
Seguindo os passos das mutações de ordem temporal, certos sacerdotes e teólogos oportunistas acharam-se no direito de querer "adaptar" a Igreja de Cristo ao espírito do momento.
Tudo que muda se renova, o que se renova sobe e o que sobe converge para unidade do Divino, eis a ocâ loquacidade do catolicismo chinfrim do Padre charlatão Tailhard Chardin.
Em síntese, a civilização moderna – como bem analisou Pe. Julio Meinvielle -, ou a Revolução, apresenta-se-nos como um processo canceroso, que se desenvolve sobre o corpo vigoroso da civilização cristã e que a esta devorando numa ação de cinco séculos. As grandes manchas deste processo canceroso tomam o nome de naturalismo, liberalismo, socialismo, comunismo e tecnocracia. Atravessamos uma orgia de estupidez, diria Veuillot.
Voltemos aos questionamentos inicialmente elencados.
Há ainda princípios imutáveis? Existem ainda alguma verdade?
É corriqueiro ouvir de um canto a outro que de um dia para o outro a verdade muda – o sim torna-se não, por isso, como já salientamos, a mutação tornou-se crônica, a novidade é objeto de nossas maiores aspirações.
Todos fenômenos acima aduzidos (naturalismo, liberalismo, socialismo, comunismo e tecnocracia) consistem, portanto, na negação das convicções sobre as quais durante vinte séculos assentou o pensamento cristão.
A primeira dessas convicções, como demonstrou Jean Daujat em livro notável sobre a dialética revolucionária do comunismo, é que a afirmação humana tem um sentido: o sim é sim, e o não é não.
Há uma verdade independente de nós porque resulta do que é. E a verdade não se confunde com o erro. A primeira convicção fundamental do pensamento consiste, pois, na "dependência da nossa inteligência perante a verdade ou a realidade a conhecer".
A Segunda convicção é que existe bem e mal, coisas boas e más, devendo-se procurar o bem e evitar o mal. A palavra bom tem um sentido, assim como a palavra sim e a palavra verdadeiro. Donde o poder assim expressar-se esta Segunda convicção: "a dependência da nossa vontade em relação ao bem amado e desejado".
Por essas duas convicções, segundo o mesmo Daujat, vemos que submissão ao objeto é lei fundamental da consciência humana.
A inteligência, submissa ao ser, àquilo que é e que ela não pode fazer com que não haja.
A vontade subordinada ao bem, seu objeto natural e que também não depende do sujeito.
Esta submissão ao real e consequentemente a Deus, Autor dessa realidade. Ou seja: dependência radical do homem perante Deus.
Concluindo, o mal estar hodierno, as tormentas que atravessamos, decorre do fato de que o pensamento moderno, numa acelerada e progressiva marcha do subjetivismo que é sua característica fundamental, veio romper com essa dependência e cortar as amarras que ligam a inteligência à realidade.
Urge encontrarmos a Verdade perdida, melhor dizendo, devemos voltar a ela, pois, não obstante seus efeitos devastadores, as mutações variadas pelas quais atravessamos não possuem raízes, estão alicerçadas no efêmero, enquanto a natureza é permanente, a verdade permanece, porém, ocultada pelas trevas revolucionárias, mesmo que os sinais dos tempos nos demonstrem sua total superação.
Nestes tempos em que reina o conformismo do absurdo e da desordem, em que o ídolo da revolução permanente se converteu em centro de atração para os rebanhos de escravos teledirigidos, nada há de mais novo e mais insólito do que pregar o retorno às fontes e defender a natureza e a tradição, eis o grito de alarme profético de Gustave Thibon.
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
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Quem sou eu
- Fernando Rodrigues Batista
- Católico tradicionalista. Amo a Deus, Uno e Trino, que cria as coisas nomeando-as, ao Deus Verdadeiro de Deus verdadeiro, como definiu Nicéia. Amo o paradígma do amor cristão, expressado na união dos esposos, na fidelidade dos amigos, no cuidado dos filhos, na lealdade aos irmãos de ideais, no esplendor dos arquétipos, e na promessa dos discípulos. Amo a Pátria, bem que não se elege, senão que se herda e se impõe.
"O PODER QUE NÃO É CRISTÃO, É O MAL, É O DEMONIO, É A TEOCRACIA AO CONTRÁRIO" Louis Veuillot
Um comentário:
Lixo. Amaldiçôo o google por me haver trazido até aqui.
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