Fernando Rodrigues Batista
Nunca como na hora presente evidenciou-se tanto a vetusta premissa marxista: "não basta conhecer o mundo, é preciso transforma-lo".
Avulta-se o homo rationalis de Kant, do iluminismo, das sociedades de pensamento.
O que molesta o homem moderno é que a história refere a subordinação ao Deus que luceferianamente sonhamos destroná-lo.
Com a loquacidade que lhe era peculiar, o saudoso jusfilósofo espanhol Francisco de Elias Tejada lecionava que á história atesta as fraquezas do homem, o homem novo se envergonha da história para sonhar os dias futuros em que arrancara aos deuses os supremos segredos da vida.
Não tardou em obrar nesse sentido os senhores da "razão", logo, a um mundo natural, não feito pelo homem, criado por Deus, substitui de imediato um outro mundo, um mundo artificial, elaborado pelo homem, erigido por ele, submetido as suas injunções sejam elas quais forem.
Esse processo de mutação da inteligência e do homem, transborda os limites do mundo moral, invade o domínio do físico e faz do homem, o Demiurgo por excelência, o criador do real, da sociedade e, afinal, de si mesmo. O homem tornou-se Deus.
O maior responsável por isso: Immanuel Kant!
Para o filósofo de Koenisberg os "fenômenos", vale dizer, aquilo que se mostra, aquilo que aparece, cuja significação real é posta fora de dúvidas, é apenas uma "aparência", uma "imagem", ao modo que Roscelin antes dele caracterizava os "universais" dando supedâneo à Lutero quando separou a natureza da graça.
Em assim sendo, como o demonstrou Farias Brito, a "coisa em si" é impenetrável e como objeto do conhecimento, vale somente como conceito negativo, como conceito limite, e de limite precisamente de conhecimento, eqüivale dizer, foi negada qualquer substancia, foi negada toda realidade.
Confessadamente, a Enciclopédia foi criada "para mudar a maneira comum de pensar". Com efeito, trata-se de inverter, senão de subverter completamente o ato do conhecimento como afirma Marcel de Corte.
A Revolução Francesa ocorreu nos espíritos antes de se manifestar nos acontecimentos e nas instituições, o abalo, a cisão por ela provocado foi antes espíritual do que político e social.
O mundo só é mundo na medida em que a inteligência do homem o constrói.
Alijado o vínculo de re-ligação (religião), o homem rebelado, despreendido de todas amarras, sobremodo, aquelas que lhe conferiam o que se denominou "liberdades concretas" destoantes das liberdades abstratas de Rousseau, este homem feito Deus, seja dos canos de esgoto das sociedades secretas, seja infiltrado nas altas cúpulas dos governos mundiais ou nas famigeradas universidades, busca a seu talante "criar" um "mundo novo", "irreal", ao qual todos deverão sujeitar-se e entoar loas, sob pena de ter decepada a cabeça por conspirar contra a tão almejada "fraternidade universal" tão cara aos próceres da nova ordem mundial que hoje buscam realizar o desejo daquele pensador de Koenisberg.
Um comentário:
muito bom. Mas poderia ser mais claro sobre o homo rationalis
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