quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

As Duas Espadas

Louis Veuillot

Estes dois poderes, distintos e subordinados, mediante os quais se rege a sociedade cristã, se denominam as duas espadas, porque a palavra não seria nada se, em certos momentos, não pudesse ser também uma espada. A mansidão de Cristo há querido duas espadas, afim de que a repressão caísse mais tardiamente e pudesse ser prevista.
A primeira espada, a que não desgarra mais que as trevas, pertence ao poder paciente e infalivelmente iluminado do Pontífice. A outra, a espada material, se encontra nas mãos do representante da sociedade, e, a fim de que não erre, deve obedecer ao pensamento do Pontífice. É o pontífice quem a faz desembainhar e quem a faz tornar logo a seu lugar. Seu ofício consiste em reprimir o erro agressivo uma vez definido e condenado, em manietá-lo, em abate-lo; em dar proteção a verdade, seja que tenha necessidade de defender-se, seja que tenha necessidade de atacar a sua vez. A mão secular deve dar passo a verdade, assegurar a liberdade de seus ensinamentos, preservar a vida de seus embaixadores e de seus discípulos. Aos apóstolos lhes foi dito: "ide, ensinai a todas as nações; batiza-las". A todos nos ordena orar a fim de que o reino de Deus chegue: Adveniat regnum tuum. Cristo não há mandado nunca nada injusto. Este mandamento implica o dever para todos os povos de receber aos enviados de Cristo e da sociedade cristã ao menos o direito de proteger-se. Mister é que eles suportem o exílio, a fome, os trabalhos, os desprezos, que morram na miséria e sejam devorados pelas bestas ferozes. A república cristã tem o direito de exigir que não encontrem todavia o verdugo e que seus neófito, havendo entrando na família, sejam sagrados como eles. Tais são os empregos de força que obedece ao mandato do Pontífice. Lhe pertence a ela complementar esta ordem divina dada a Pedro, investido já do principado: "Levanta-te, mata e come". Que dizer, segundo a interpretação dos Padres: Mata o erro, que é a morte, e transforma-lo em tua luz, que é a vida.
Quando dizemos estas coisas, o livre pensamento grita: Teocracia!, como se gritasse: Ao assassino! Finge então terrores tais que nos espantam a nós mesmos muito mais do que realmente ocorre. Mediante isto exalta a prudência até o delírio, até a traição a verdade; impede a reivindicação e até a expressão mais legítima e mais necessária do direito cristão.
Claro que está prudência está mais que suficientemente motivada. Quando os livre pensadores fingem temblar, acreditam dispensados da razão e da justiça e a Igreja pode então esperar a perseguição. O católico liberal não desdenha tocar esta corda sensível: predicareis acaso a Teocracia? Quereis fazer-nos lapidar?
Sem embargo, pois nossos adversários são irremediavelmente injustos, é mister que sejamos absolutamente covardes, quando a primeira condição da liberdade a que eles nos convidam não é outra coisa que o não ver nada, não saber nada, não falar nada, não pensar nada?
Afrontemos as artimanhas das palavras, a fim de que os lacaios e os servidores do pretório, onde o livre pensamento pretende julgar a Cristo, não nos faça dizer: Eu não conheço este homem. Devemos obediência a Igreja nos limites que ela mesma há fixado, os quais por outra parte são bastante amplos como para a rebelião e o orgulho não morram asfixiados. Se esta obediência é a teocracia, quem tem medo dela sinceramente, não o tem o bastante para outras coisas. Na vida pública tanto como na vida privada, não há mais quem um meio de escapar ao reino do diabo, ou seja, o submeter-se ao reinado de Deus. Antes de nós e até o presente, e no presente mesmo, temos na história, suficientes exemplos do emprego que a autocracia humana suele fazer das duas espadas. Não seria preciso remover céu e terra para encontrar o povo que ganharia tudo, começando pela vida, se o Vigário de Jesus Cristo, o Rei espiritual, pudesse dizer ao rei temporal: Mete sua espada na bainha (vaina).
O cristão é sacerdote, o cristão é rei, e foi feito para um glória mais alta. Deus deve reinar em nós, por nós, afim de que mereçamos reinar com Ele. Eis aqui regras de fé que não podemos apartar de nossos regulamentos de vida política. Nosso rango é sublime, nosso dignidade é divina; não podemos renunciar ao destino presente, nem declinar as obrigações augustas e gloriosas – deveres de ordem publica e de ordem particular -, sem abdicar ao mesmo tempo de nossa dignidade futura. Não temos a riqueza, a força, a liberdade, a vida, nem possuímos nada que seja para nós somente. Cada Dom que recebemos deve servir de proteção para a alma e o corpo de nossos irmãos débeis e ignorantes. Agora, a proteção devida aos débeis, consiste em estabelecer leis que lhes facilitem o conhecimento de Deus e a comunicação com Deus. Seremos examinados e julgados futuramente, e nenhum cristão pode crer que no dia em que lhe peça contas dos pequenos abandonados com desdém ou defendidos sem constância e sem amor, poderá justificar-se respondendo como Caím: sou eu acaso que custodiei meu irmão?


Do livro "A Ilusão Liberal", Editorial Nuevo Orden, Bs. Aires, 1965.

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Fernando Rodrigues Batista

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Católico tradicionalista. Amo a Deus, Uno e Trino, que cria as coisas nomeando-as, ao Deus Verdadeiro de Deus verdadeiro, como definiu Nicéia. Amo o paradígma do amor cristão, expressado na união dos esposos, na fidelidade dos amigos, no cuidado dos filhos, na lealdade aos irmãos de ideais, no esplendor dos arquétipos, e na promessa dos discípulos. Amo a Pátria, bem que não se elege, senão que se herda e se impõe.

"O PODER QUE NÃO É CRISTÃO, É O MAL, É O DEMONIO, É A TEOCRACIA AO CONTRÁRIO" Louis Veuillot