domingo, 25 de março de 2007

Arlindo Veiga dos Santos: o poeta brasileiro de Pátria Nova

Ricardo Dip (delegado da Comunhão Tradicionalista no Brasil)

Ricardo Henry Marques Dip, nasceu em 23 de novembro de 1950, em São Paulo. Após diplomar-se em Comunicação Social (1972) e Direito (1973), ingressou na Magistratura judicial do Estado de São Paulo (1979), em que agora ocupa o cargo de Desembargador na Suprema Corte estadual. Além do magistério universitário em seu País, é professor convidado da pós-graduação da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Buenos Aires (Argentina), membro fundador do Instituto Jurídico Interdisciplinar da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal) e acadêmico de honra da Real Academia de Jurisprudencia y Legislación de Madrid (Espanha). É autor de vários livros, publicados no Brasil, em Portugal, na Espanha e na Argentina.

A um jesuíta italiano, Juan Antonio Andreoni (1649-1716) –que escreveu sob o pseudônimo de André João Antonil– em Cultura e Opulência do Brasil (1711), se atribui uma sentença que diz: "o Brasil é o inferno dos negros, o purgatório dos brancos e o paraíso dos mulatos e mulatas". Há quem diga (1) que, antes de Antonil, frase similar já se encontrava no título de um livro, que se perdeu, escrito por D. Francisco Manuel de Melo (2). Esse "Brasil inferno dos negros" –provenha o enunciado do padre toscano ou do prosador barroco– é uma referência relativamente injusta, porque, em verdade, pior viviam os negros na África, também escravizados, em prisões e passíveis de antropofagia, ao passo que, ainda que trazidos para o Brasil na dura condição de escravos, passaram viver na companhia, dos brancos portugueses e de seus descendentes. O efeito da mestiçagem, no Brasil, é uma realidade que, em última instância, se explica por meio da cosmovisão lusíada que, na busca dos descobrimentos marítimos, se inspirava, como há dito José Pedro, em fazer cristandades. Do que segue o conhecido ditado popular: "Deus fez o homem e o português o mulato".
Se costuma imputar a cultura negra a extroversão e o ânimo de benevolência da psicologia do tipo brasileiro médio (3), mas – enquanto esta inclinação de benevolência e extroversão, possam entender-se como virtudes – se atribui em contrapartida a influência africana indolência do brasileiro, como a retratou o pernambucano Ascenso Ferreira (1895-1965) no mais célebres de seus poemas:
"Hora de comer – ¡comer!
Hora de dormir – ¡dormir!
Hora de vagar – ¡vagar!
¿Hora de trabalhar?
–Pernas para o ar que ninguém é de ferro"(4).
A desmentir, contudo, a extensão fatídica dessa marca de indolência, como também para desmascarar o exagero de algumas afirmações de racismo em terras do Brasil, nelas viveu ARLINDO VEIGA DOS SANTOS (1902 ou 1905-1978), esse brasileiro infatigável, descendente dos povos africanos, que foi fundador, em 1931, e primeiro presidente da Frente Negra Brasileira –que constituiu o mais importante movimento dos negros do Brasil na primeira metade do século XX. Foi ele, também, um grande pensador da hispanidade. Em 1958, Francisco Elías de Tejada incluiu Arlindo Veiga dos Santos "entre os maiores expoentes atuais do pensamento político tradicional das Espanhas cristãs e anti - européias" (5). Intelectual, professor da outrora Universidade Católica de São Paulo, Veiga dos Santos traduziu para o português o De regimine principum de S.Tomás de Aquino e Le crépuscule de la civilisation de Jacques Maritain. Poeta, cantou a tradição do Brasil, católico e hispânico:
"O certificado santo do Batismo
que me centrou em Cristo
me marcou sobre a terra
para o universalismo da vocação cristã...
(......) Não sou daqui ou dali;
sou de todos:
do Brasil, de Portugal,
de Moçambique, atalaia
da empresa oriental;
de Angola, Timor, Guiné,
Diu, Goa, Macau, Açores,
da ideal ‘Ilha dos Amores’,
Cabo-Verde e as ilhas suaves
onde pulsa Funchal,
do Príncipe e São Tomé.
(......) São meus patrícios imperiais
Bilac, Eça, Sardinha e Don Dinis; Camões,
Casimiro, Garret; Isabel e Florbela;
os violeiros
das vastidões interioranas, trovadores
de África, Oceania, Ilhas e lusa China,
do Continente todas as vastidões
herança dos Avôs, almas de aventureiros,
cruzados da Liberdade Divina,
honra da Cristiandade,
sábios, campeões da Cruz e da fraternidade que a Mãe Igreja ensina
para o bem da humanidade.
Terras de Santa Maria!
Terras da Imaculada Conceição,
D’ Aquela que na Cova da Iria,
mais de uma vez,
à nós se dirigiu em Português!
Terras Lusitanas (que Neo-Luso eu sou em reta varonia!),
em vós nasci no Sangue e pelo Espírito,
pela Cultura e pelo Coração.
Terras de Santa Maria!
Terras da Imaculada Conceição!"(6).

E Arlindo Veiga dos Santos, que teve certa vez "a sensação misteriosa das Idéias que marcham em silêncio"(7), fez uma invocação suprema –"a mais alta possível na terra e em uma pátria nomeadamente cristã e católica" (8) – e, confiado na Trindade Santíssima, fundou, em São Paulo, no ano de 1928, o movimento "Pátria Nova – Centro Monárquico de Cultura Social e Política", que, a partir de 1935, passou a designar-se "Ação Imperial Patrianovista Brasileira"(9). Pátria Nova foi também o nome da revista que o movimento fundado por Veiga dos Santos lançou em 1929 (10). Pátria Nova, poderia dizer-se um carlismo do Brasil; Pátria Nova, de certa maneira, foi um precursor remoto do que se tornaria o grande movimento tradicionalista de Hora Presente, onde, com José Pedro, Lema Garcia, Fraga Teixeira, Casseb, Orsini, Galli, Barros Siciliano, entre outros, se ouviria a voz da autêntica hispanidade - brasileira.
O programa originário do patrianovismo estabelecia, no plano da política internacional, "um sistema de alianças fundamentais baseadas" nas tradições de "família lusitana ou lusíada (...) e, mais extensamente, hispanicas ou neo-hispanicas" (11). E porque amadureceu a idéia da integração do Brasil no mundo hispanico, o pensamento de Pátria Nova se completou pela doutrina de Reconquista, em que, no Brasil, José Pedro Galvão de Sousa, na Espanha, Francisco Elías de Tejada, e em Portugal, Fernando de Aguiar, afirmavam conjuntamente a Tradição Hispanica (12).
Atualização da doutrina monárquica tradicional (13), Arlindo Veiga dos Santos concebia o patrianovismo como "doutrina dinâmica com base no principio estático - dinâmico da tradição" (14). Dizia que era preciso instaurar a novidade da tradição – e não meramente restaurar o passado – porque "tradição é passado em marcha" e "não uma parada romântica no caminho do futuro" (15). A história do Brasil, nos diz ele, começa na Idade Media, quando se funda Portugal: "toda manobra contra a lusitanidade fundamental do Brasil destrói sua brasilidade" (16). Por isso, "toda política que não seja tradição é seguramente traição" (17).
E, ainda agora, quando parece que o mundo – o mundo, in maligno positus – , quando parece que o mundo se abate sobre a milícia do ideal da Hispanidade, talvez nos reconforte a voz do poeta Veiga dos Santos, do poeta brasileiro da tradição:
"Quando dei por perdidas as batalhas,
quando dava a vitória por perdida,
ouvi na sombra a legião de Idéias
que marcham poderosas no silêncio..." (18).

NOTAS: 1 - Gladstone Chaves de Melo, Origem, Formação e Aspectos da Cultura Brasileira, ed. Padrão, Rio de Janeiro, 1974, p. 76.
2 - Francisco Manuel de Melo (1608-1666), escritor bilingüe —en português e castelhano— foi um dos maiores literatos do barroco lusitano. Escreveu Historia dos movimentos e separação de Catalunha (1645), Epanáforas de Varia Historia Portuguesa (1660), Cartas Familiares (1664), Obras Métricas (1665), Carta de Guia de Casados (1651); se publicaram póstumamente : Auto do Fidalgo Aprendiz (1676) e Apólogos Dialogais (1721). Esteve no Brasil, cumprindo pena de desterro, entre 1655 e 1658, acusado de conivência no homicídio de um certo Francisco Cardoso.
3 - Chaves de Melo, op. cit., p. 74.
4 - Filosofia, dedicado a José Pereira de Araújo, "Doutorzinho de Escada". 5 - Arlindo Veiga dos Santos desde o Tradicionalismo Castelhano, Revista da Universidade Católica de São Paulo, dezembro de 1958, vol.
16, n. 28, separata, p. 7.
6 - "Minha Nação e Império" in Sentimentos da Fé e do Império, s.d.
7 - "Idéias em Marcha", in Sentimentos da Fé e do Império. 8 - "A História Continua Ensinando…", in Idéias que Marcham em Silêncio, 1962, p. 1
9 - Cfr. José Pedro Galvão de Sousa, Clovis Lema Garcia e José Fraga Teixeira de Carvalho, Dicionário de Política, ed. T.A.Queiroz, São Paulo, 1998, p. 408.
10 - Havia antes um semanário português, editado em Coimbra, também chamado "Pátria Nova". O dirigiu Luís de Almeida Braga (1886-1970), que, influenciado pela doutrina carlista, fundou, em 1913, a revista "Alma Portuguesa", em cujas páginas se alcunho o término "integralismo lusitano".
11 - "Programa Patrianovista" in Idéias que Marcham em Silêncio, p. 141. 12 – No Dicionário de Política, escrito por José Pedro, Clovis Lema Garcia e José Fraga Teixeira de Carvalho, depois de menciones acerca del patrianovismo brasileño —"Um dos pontos do programa de Pátria Nova era o especial entendimento hispano - americanista. Com o correr dos anos, esse ponto foi sendo mais amadurecido, por uma compreensão profunda da lusitanidade e da integração brasileira no mundo hispanico. Ademais, desde o primeiro momento, Pátria Nova acentuava as origens lusas do Brasil e se abria em comunhão com os povos vizinhos e irmãos do Continente"– consta um expressivo registro sobre o tradicionalismo: "Nessas perspectivas, o pensamento tradicionalista de Pátria Nova foi completado por Reconquista, revista bilingüe de cultura, publicada de 1950 a 1952 também em São Paulo, tendo como co - diretores, no Brasil, a José Pedro Galvão de Sousa (1912-1992), em Espanha, a Francisco Elías de Tejada (1917-1978) e em Portugal, a Fernando de Aguiar". E, mais adiante se arremata: o núcleo desse pensamento hispano - americanista se põe com "a concepção orgânica da sociedade e do poder e a convicção monárquica fundada na história e na sociologia". Há um episódio digno de acordo: José Pedro esteve um tempo em duvida acerca do nome da nova revista que, então, pensava em fundar; todavia solteiro, ele vivia em um apartamento na Avenida Angélica, São Paulo, onde certo dia lhe foi visitar Veiga dos Santos que tinha uma sugestão para o nome da nova revista – justo o nome que se adotou: Reconquista.
13 - Idéias que Marcham em Silêncio, p. 39.
14 - Id., p. 43.
15 - Id., p. 24.
16 - Id., p. 81.
17 - Id., p. 73.
18 - In Sentimentos da Fé e do Império, p. 31.



Necessidade do retorno à vida interior (parte I)

Mons. Octavio Nicolás Derise


O homem foi redimido por Cristo. Com suas dores e com sua morte, o Senhor pagou a Deus a dívida de nossos pecados, alcançou-nos o perdão e, incorporando-nos a Ele – o Filho de Deus – fez-nos participes de sua Filiação divina.
Pela fé e pelo arrependimento, e através do batismo, o homem incorpora-se a Cristo, e com a graça santificante que procede d’Ele, como Cabeça da Igreja – seu Corpo Místico – começa a viver a vida de Deus.
Essa vida de Deus, porém, é absolutamente sobrenatural, Está instaurada na vida natural de nossa alma espiritual, mas é essencialmente superior a ele. O homem não pode merece-la, nem vive-la, apenas com suas forças. Por penetrando e culta que seja, sua inteligência, por si mesma, não pode chegar a conhecer as verdades sobrenaturais da Revelação; e, por vigorosa que sejam sua vontade não pode atuar sobrenaturalmente. Daí necessitar não somente da graça santificante, que transforma e eleva seu espírito de modo permanente à vida de filho de Deus, como também das graças ou auxílios atuais, com que Deus lhe ilumina o intelecto e lhe conforta e anima a vontade. A palavra de Cristo é terminante: "Sine me nihil potestis facere" ("Sem Mim não podereis fazer nada")
Sem estas graças com que Deus nos conforta e sustenta na vida sobrenatural, não poderíamos permanecer nem atual nela, precisamente porque esta vida sobrenatural esta essencialmente por cima de toda natureza criada e criável. Pertence a uma ordem divina, que o homem só pode alcançar e viver com a ação de Deus em sua alma. Ação de Deus que normalmente opera através dos meios sobrenaturais estabelecidos pelo próprio Cristo.
Se todo ser natural – também o ser do agir do homem e de todas as criaturas – sob o aspecto de ser (sub ratione entis) procede sempre de Deus como causa primeira, o homem, precisamente porque não é ser, mas participa dele contingentemente, com muito mais razão depende imediatamente do Ser de Deus no ser e na vida sobrenaturais, que transcendem essencialmente toda a ordem humana criada.

(na parte II: os meios sobrenaturais)

O psicossomatismo, o aborto e a moral sexual

Gustave Thibon


Um padre americano contou-me recentemente a história seguinte: recebera a visita de dois adolescentes num estado de extrema agitação. Julgavam-se possessos do demônio e pediram-lhe para os exorcizar. Como nunca lhe tinham feito tal pedido, começou por manifestar algum cepticismo sobre o que os jovens afirmavam. Compreendeu tudo, quando eles lhe confessaram que tinham assistido, alguns dias antes, à projeção do filme de horror intitulado "Exorcista". "Acabei - contou-me ele - por praticar sobre eles, com a maior solenidade possível, os ritos do exorcismo e eles foram-se embora livres da sua obsessão. Mas pergunto a mim próprio se não se tratava de um simples fenômeno de auto-sugestão..." Sugestão ou não - respondi-lhe - acho que procedeu muito bem, porque era verdadeiramente do diabo que se tratava. Não, sem dúvida, de um caso em que o demônio possuía diretamente uma pessoa, mas sim do espírito do mal que sopra através do mundo e penetra nas almas através dos meios de comunicação social. Em suma, um demônio sociológico, adaptado à era das multidões... Digamos que estes jovens que se julgavam possessos tinham "somatizado" a emoção violenta provocada por um espetáculo de terror. O que nos conduz a reflexões mais gerais sobre o fenômeno da projeção no corpo das perturbações da alma, ao qual um dos nossos grandes médicos atribuía recentemente a origem de pelo menos 50 por cento das doenças consideradas orgânicas: asma, eczema, úlcera gástrica, cardiopatia, etc. Daqui a necessidade de os médicos que se preocupam com a eficácia saberem tanto de psicologia como de fisiologia. Admite-se, portanto, cada vez mais, sob a pressão crescente dos factos, que a alma é senhora do corpo, que o plasma, se assim posso dizer, à sua imagem, uma vez que perturba o funcionamento do corpo em função do seu próprio desregramento. Mas qual é então a causa da má vontade ou da suspeita que tão facilmente incide sobre o bem fundado da influência contrária - a influência da alma sobre os mecanismos e as pulsões do corpo, a fim de os regular e de os orientar em função de um ideal moral ou religioso? Uma imensa corrente de opinião, que tem origem no culto aviltante do prazer e da facilidade, tende a repelir, como contrárias à plenitude do ser humano e como causas de recalcamento e de frustração, todas as formas de ascese e de disciplina que o espírito impõe à carne. É neste sentido que alguns condenam, em nome da espontaneidade e da criatividade da criança, a parte de aprendizagem e de disciplina que a educação comporta e que identificam, em matéria sexual, o ideal de castidade com recalcamento... "É lesar os direitos do corpo impor a castidade aos adolescentes" - dizia-me uma educadora, embebida até á medula de liberalismo moral e, por outro lado, eminentemente favorável ao aborto e à pílula. Eis como lhe respondi: "0 corpo não tem direitos, mas funções. É à alma que pertence coordenar essas funções com vista a realizar um equilíbrio ótimo entre a vida animal, a vida espiritual e as exigências do meio social. Que isso implica uma parte de violência em relação às pulsões carnais, é algo a que dou o meu acordo sem receio. E também concordo que certas castidades mal integradas provocam recalcamentos. Mas o recurso ao aborto ou à pílula, que você preconiza, como contrapartida da liberdade sexual, não é também um atentado contra esses famosos "direitos" do corpo? É a carne que reclama a interrupção da gravidez ou o impedimento da fecundidade? Pelo contrário, ela só quer levar até ao fim o processo natural que vai da união conjugal ao nascimento. Não, essas intervenções mutilantes procedem de um frio cálculo do espírito, ávido de tirar do corpo o máximo de gozo, sem ter em consideração as consequências naturais do prazer. Nesse caso, intervenção por intervenção, prefiro a da moral sexual..." Assim, como quer que se proceda, nunca se escapa ao domínio da alma sobre o corpo. Todo o problema está em saber qual o sentido em que esse domínio se exerce. Mens sana in corpore sano (alma sã em corpo são) - diziam os antigos. Sabemos demasiado bem que as doenças da alma se repercutem sobre o corpo; por isso, é preciso velar pela saúde da alma, a fim de que ela tenha, sem sentido contrário, as mesmas repercussões - por outras palavras, substituir o psicossomatismo do erro e do mal pelo da verdade e do bem.

Um esboço sobre a epopéia cristera no México – Perseguição Laicista maçônica

Lic. Gustavo Carrère Cadirant



A perseguição liberal e maçônica contra a Igreja católica no México, que desencadeou a "Epopéia Cristera" no século XX, não era senão continuação da iniciada no século XIX.

Em 16 de setembro de 1810, no chamado "Grito de Dolores", o sacerdote Miguel Hidalgo y Costilla iniciava o processo de "guerra insurgente ou civil" que culminaria com a independência do México. Os bispos sustentavam que não se tratava de guerra pela independência senão, uma luta injustificada e selvagem contra uma classe da sociedade: a exaltação das turbas, conhecidas como os "chinacos", contra as classes altas da sociedade, conhecidas como os "gachupines". Não obstante, a burguesia "criolla" americana do século dezenove, ansiosa por libertar-se do poder da Coroa espanhola e da influência da Igreja Católica, se agrupou em lojas maçônicas locais, com intervenção dos franco maçons do norte anglo-saxão, que já então buscavam penetrar em solo ibero-americano. Em 24 de fevereiro de 1821, o "Plan de Iguala" decide a independência completa como monarquia constitucional e institui a Religião Católica como base espiritual da vida mexicana; o imperador Agustín de Iturbide ocupara o governo. Paralelamente, o "Manifiesto Destino" lhes assinalava aos governantes dos Estados Unidos o velho Oeste como meta; assim Texas, Novo México, a Alta Califórnia e Arizona entravam nos planos anexionistas. Por isso foi comissionado seu embaixador Poinsett, a formação de um "Partido Americano" no México; sobre a base das "logias yorkinas"; o projeto era "La República Federal y Laica". Com a colaboração de liberais maçons e os constitucionalistas, em 1824 Iturbide será destituído e fuzilado em Padilla. O Gral. Vicente Guerrero proclamará assim a República em 1824; se sanciona a Constituição. Começa um período de decadência: o separatismo centro-americano, a propaganda anti-religiosa, a guerra do Texas e a guerra contra os Estados Unidos, que culmina com o Tratado de Guadalupe, o 2 de febrero de 1848, que levou a perda de 50% de seu território -Texas, Novo México, Arizona e a Alta Califórnia -; a política exterior do México ficou assim subordinada aos Estados Unidos.


a. Presidência do Dr. Benito Juárez (1855-72)

Em 1855, se desata a revolução liberal com toda sua virulência anti-católica, quando assume o poder Benito Juárez, índio zapoteca, de Oaxaca, que aos 11 anos, com ajuda do leigo carmelita Salanueva, aprende castelhano e a ler e escrever, o que lhe permite ingressar no Seminário. Advogado mais tarde e político, impõe, obrigado pela loja norte-americana de Nova Orleans, a Constituição de 1857, de orientação liberal, e as Leis de Reforma de 1859, uma
e outra abertamente hostis a Igreja: algumas disposições específicas, entre as que sobressaíram: Artigo 3º: Elimina da Igreja a tarefa da educação; Artigo 13º: Ratifica Lei Juárez de 1855 que põe fim aos privilégios e tribunais especiais para Igreja; Artigo 27º: Ratifica Lei Lerdo de 1856 que proíbe a Igreja administrar bens ou empresas não destinadas ao culto religioso; Artigo 56º: Impede os sacerdotes de serem deputados; Artigo 57º: Impede aos sacerdotes aspirarem a Presidência da República; e Artigo 123º:Permite ao Governo controlar a prática do culto.
Seu governo deu também apoio a uma Igreja mexicana, precário intento de criar, em torno a um pobre padre, uma Igreja cismática. SS Pio IX condenou estas medidas; enviou um comunicado ao Presidente da República Mexicana de cujo texto tomamos um fragmento que diz: "levantamos nossa voz pontifícia com a liberdade apostólica para condenar, reprovar e declarar írritos e de nenhum valor os chamados decretos de reforma e tudo mais que haja praticado a autoridade civil com tanto desprezo da autoridade eclesiástica e desta Sé apostólica".
Este respaldo absoluto do Papa ao clero mexicano auspicio uma "resistência popular católica" nos anos 1858-1861, conhecido como a "guerra de três anos"; primeiro precedente da epopéia cristera. A catolicidade mexicana sustentou essa luta contra aqueles laicistas da Reforma, também jacobinos, que haviam imposto a liberdade de todos os cultos - exceto o culto católico, submetido ao controle restritivo do Estado -, pondo a venda os bens da Igreja, proibindo os votos religiosos, supressão da Companhia de Jesus e, portanto, de seus colégios, o juramento de todos os empregados do Estado a favor destas medidas, a deportação e a prisão dos bispos ou sacerdotes que protestaram e uma repressão sangrenta das manifestações de protesto, particularmente numerosas nos estados de Jalisco, Michoacán, Puebla, Tlaxcala; o governo liberal prevaleceu graças a ajuda dos Estados Unidos. Em 1860 Juárez expulsou do país todos os prelados estrangeiros, o que fez com que os conservadores pensassem em chamar um rei ou imperador da nobreza que os "acercara a Dios", para substituir ao presidente indígena que os estava "acercando al diablo".


b. Presidência de Sebastián Lerdo de Tejada (1872-76).

Este, que havia estudado no Seminário de Puebla, acentuou a perseguição religiosa. Com a restauração da República se aplicaram ao pé da letra as Leis de Reforma; em 20 de maio de 1873, o Governador do Distrito Federal, por ordens do Presidente arrestó a todos os jesuítas, assim como os freis, monjas e sacerdotes estrangeiros. O periódico subsidiado pelo Governo chamado "el federalista" em sua edição de 21 de maio de 1873 consignou textualmente: "os sacerdotes naturais do país seguirão purgando no cárcere sua desobediência as leis; as monjas não poderão voltar a consagrar-se e os sacerdotes estrangeiros, particularmente os jesuítas, serão desterrados do país como cidadãos perniciosos".
O governo federal decidiu reformar a Constituição, completando-a; o decreto de 25 de setembro de 1873, incorporava os cinco decretos, conhecidos como Leis da Reforma, a Constituição de 1857. Uma emenda constitucional decidiu pela expulsão das Irmãs da Caridade - a quem o mesmo Juárez havia respeitado -, não obstante que das 410 que havia, 355 eram mexicanas, que atendiam cerca de 15.000 pessoas em seus hospitais, asilos e escolas. Em troca, se favoreceu oficialmente a difusão do protestantismo, com apoio norte-americano; assim mesmo se proibiu que houvesse fora dos templos qualquer manifestação ou ato religioso. Tudo isso provocou outra "resistência (alzamiento) popular católico", chamado de os Religioneros (1873-1876), segundo precedente da epopéia cristera. Os primeiros levantamentos se produziram em novembro de 1873 em Morelia, Zinacatepec, Dolores Hidalgo, León; muito mais graves foram as tragédias em Jonacatepec, Temascaltepec e Tejupilco. Em janeiro de 1874, a "Epopeya religionera" se estendia aos gritos de ¡Viva la Religión! ¡Muera el mal gobierno! ¡Mueran los protestantes!
A cega repressão do governo produziu um maior apoio popular; em tal sentido apontavam: "A conduta dos chefes mandados pelo governo para sufocar a revolução é mais própria para avivar o incêndio que para sufoca-lo".
A frente desta guerra popular, verdadeira guerra de guerrilhas, se encontravam: Jesús González, Benito Mesa, Domingo Juárez, Gabriel Torres, Antonio Reza, Jesús Soravilla, Socorro Reyes. Os prelados, como em muitas ocasiões, não trabalharam de maneira uniforme; entretanto, uns recomendavam obediência as leis, outros incitavam contra o governo. O Gral. Porfirio Díaz derrubou a Lerdo de Tejada graças ao apoio popular; o movimento "religionero" desaparece, por não ter já razão de ser pois, Porfirio Díaz se apressou a pactuar com a Igreja Católica com o aval do Vaticano: o regime suavizaria a aplicação das Leias de Reforma se o clero se comprometesse a concentrar-se seu labor pastoral.

c. Presidência do General Porfirio Díaz ( 1877-1910)

Era, como Juárez, de Oaxaca e antigo seminarista; desencadeou uma revolução que o levou ao governo do México durante quase 30 anos: foi reeleito oito vezes, em uma sequência de fraudes eleitorais entre 1877 e 1910. O liberalismo do Porfiriato foi mais tolerante com a Igreja. Ainda que tenha deixado vigentes as leis persecutórias da Reforma, normalmente não as aplicava; mas as manteve em seu governo, especialmente na educação preparatória e universitária, o espirito laicista anti-religioso. Se mobilizou com audácia e obteve o apoio da Confederação Maçônica Internacional e do Supremo Conselho Mundial de Londres que enviaram emissários ao México dialogar com os integrantes das lojas, de cujas conversações se obteve a anuência da maçonaria universal para que o Gral. Porfirio Díaz atuasse em busca da paz e da reconciliação Igreja - Estado, com objeto de deixar o país em condições de estabilidade para a favorecer o investimento estrangeiro, os créditos e o progresso da nação mexicana. A conciliação proposta pelo governo consistiu em não combater as manifestações religiosas externas da Igreja, desde que esta colaborasse no sentido de colaborar com a conservação da paz. Sujeito ao acordo a conveniência mutua, as ordens religiosas foram restabelecidas, se abriram escolas e centros de ensino religioso, se mostrou tolerância aos atos de culto externo, se erigiram os bispados de Tabasco, em 1880; o de Colima, em 1881, e Sinaloa em 1883. Para 1895, o número de templos ascendeu a 9.580, aumentando em 4.687 em relação aos que existiam em 1878. O clero denominou esta época de tranquilidade e bonança "pax porfiriana" que foi muito comentada, controvertida e criticada. Sem embargo, os católicos conservadores manifestavam que não modificariam sua posição a respeito da legislação reformista, pois a consideravam um problema de consciência; portanto, continuava sua condenação ao que consideravam roubos sacrílegos dos objetos e propriedades eclesiásticas, a educação impartida pelo Estado e a secularização do matrimônio. Consolidado no poder o grupo liberal, se favoreceu a difusão do protestantismo, como base liberal radical no marco de seu confronto com a Igreja Católica. Com apoio do governo, se reproduziram as congregações reformistas protestantes, as que tinham como característica essencial oferecer ao indivíduo pautas e modelos organizativos, em ruptura com os modelos corporativos tradicionais, ligados em grande parte ao catolicismo.
Mas será a partir de 1910, com a denominada "Revolução Mexicana", a irrupção no panorama ilustrado de um socialismo e um marxismo ascendente, quando a situação alcançou seu ponto crítico: entre 1914 e 1917 os bispos foram detidos ou expulsos, os sacerdotes encarcerados, as monjas expulsas de seus conventos, o culto religioso proibido, as escolas religiosas fechadas, as propriedades eclesiásticas confiscadas. A Constituição de 1917 legalizou o ataque a Igreja e o radicalizou de maneira intolerável. No período de 1914 a 1934, o más cruento da perseguição religiosa no México, bispos, sacerdotes, laicos, homens, mulheres e crianças, ofereceram suas vidas ao grito de ¡Viva Cristo Rey! Teve ponto culminante de 1926 a 1929, quando o então Presidente da República, General Plutarco Elías Calles, promulgou uma lei sobre o culto, que levasse a prática as disposições da Constituição de 1917. Estas disposições, conhecidas como "Ley Calles", estabeleciam o número de ministros sagrados pela localidade, proibiam a presença de sacerdotes estrangeiros no país, limitavam o exercício dos atos de culto e, entre outras disposições, proibiam os seminários e conventos. Ante estas restrições, e por conta de frustrantes negociações por parte dos bispos mexicanos com as autoridades do Governo, a Igreja do México, em sinal de protesto, decidiu suspender os atos de culto.
A rebelião não se fez esperar: na parte ocidental do México (especialmente em Jalisco, Aguascalientes, Michoacán, Guanajuato e Colima), muitos católicos tomaram as armas para defender a liberdade religiosa. Alguns sacerdotes, ainda que em número exíguo, se uniram a eles; mas a maior parte optou por uma resistência pacífica. Os estudiosos contam só vinte sacerdotes entre os aderentes a luta armada. Entre os laicos se formaram dois grupos: os favoráveis a luta armada e os que se inclinavam pela resistência pacífica. Se tratava da Epopéia dos Cristeros, que, como seus irmãos de La Vendée, se formaram sob as bandeiras do Sagrado Coração: cerca de cem mil homens armados, apoiados pelas chamadas "Brigadas Bonitas"(mulheres que tomavam a seu cargo a sanidade, a intendência e as comunicações).
A Epopéia se desenrolou desde 1926 até 1929, em que se firma o Pacto Religioso entre o Governo e os Bispos, pelo qual estes acatavam a Constituição e se colocava fim a luta cristera. Apesar do decisivo apoio popular que levantavam os Cristeros em seu avance, a ordem chegada da Santa Sé de depor imediatamente as armas, foi diligentemente obedecida. Os da Liga e os cristeros sabiam que era uma armadilha, que o Governo não respeitaria nunca o pactuado, e que entregando as armas e deixando a clandestinidade a morte era segura; o fizeram simplesmente porque o mandava a Igreja, por fidelidade. Por obediência a Igreja. Isto supôs uma larga e duríssima prova para a fé dos cristeros, que sem embargo se mantiveram fiéis a Igreja com a ajuda sobretudo dos mesmos sacerdotes que durante a guerra lhes haviam assistido.

O conceito de Tradição em Antônio Sardinha


Henrique Barrilaro Ruas

Henrique José Barrilaro Fernandes Ruas (Figueira da Foz, 2 de Março de 1921- Parede, 14 de Julho de 2003). Professor, historiador, ensaísta e Político. Formou-se em História e Filosofia pela Universidade de Coimbra (1945) tendo freqüentado em Paris, com bolsa do Estado Francês (1947-49), a École des Chartes e o Institut Catholique. Foi Presidente do Centro Acadêmico de Democracia Cristã (Coimbra, 1942-43) e sócio - fundador do Centro Nacional de Cultura (Lisboa, 1945) de que foi diretor em 1955.

A 1ª edição deste livro ("Ao Ritmo da Ampulheta") saiu em 1925. Era a primeira obra póstuma de Antônio Sardinha, falecido aos 10 de Janeiro desse mesmo ano, com 37 anos de idade.
Os que, como eu, não conheceram Sardinha, têm de imaginar, através dos seus escritos e com o apoio de testemunhos numerosos, o que foi o fascínio daquela personalidade sem par, que em dois ou três momentos de uma vida cortada no limiar da maturidade chegou a ser o mais influente dos doutrinadores portugueses e uma das primeiras figuras da vida política nacional. Fundador do Integralismo Lusitano praticamente à saída da Faculdade de Direito de Coimbra, membro da Junta Central do grande movimento tradicionalista e mais tarde seu presidente; diretor de uma revista cultural política de intenso prestígio e do único diário que erguia no pântano uma voz revolucionária; poeta de lirismo profundo e de sopro épico potente; estilista vigoroso e ao mesmo tempo barroco, aberto às transformações queirozianas e de Fialho mas sobretudo ele próprio, na pujança de um espírito criador e insubmisso; alma inquieta na demanda de Deus e por isso apostólica e mística; historiador das "lacunas e surpresas" da nossa História, com um respeito pelo documento que nenhum ardor polémico subverte; conferencista que arrebata os mais exigentes auditórios, – Antônio Sardinha é, mais que tudo isso, o homem que melhor simbolizou, em doze anos de ação generosa, o português integral. E apesar de todas as divergências, homens como Fidelino de Figueiredo e Antônio Sérgio reconheceram-lhe a grandeza.Morto à saída da juventude, o seu nome havia de ser utilizado por muita alma baça, incapaz de se irmanar com ele em caridade pátria e em paixão da justiça. A sua obra procurou-se sepultá-la em ondas de lugares-comuns. E as linhas-mestras do seu pensamento, em que a realeza revigora e unifica as instituições tradicionais e a dignidade das pessoas e a Nação é pensada como a mais humana das comunidades, aberta ao único verdadeiro universalismo, o cristão, passaram a ser olhadas como receitas de cozinha.É ainda tempo de reler e repensar essas dezenas de obras, a que não falta nenhum dos elementos essenciais da portugalidade e em que o homem moderno encontra espaço aberto pelo amor das liberdades e pela audácia transformadora.Dedicado "À memória do Doutor Manuel Ferreira Deusdado, amigo e mestre querido que em Portugal foi o primeiro a encontrar pelos caminhos perdidos da inteligência a dupla verdade católica e monárquica da nossa raça", "Ao Ritmo da Ampulheta", já preparado para a edição quando o autor morreu, traz assim o testemunho de uma continuidade de pensamento que é um dos caracteres essenciais do integralismo. Ferreira Deusdado – agora parcialmente reeditado no excelente volume de Pinharanda Gomes "A Filosofia Tomista em Portugal" – é um daqueles mestres que os integralistas aceitaram com humildade, porque lhes traziam notícia clara dos valores de uma tradição violentamente interrompida. E não se deve esquecer o generoso cuidado com que Sardinha procurou recolher o magistério de alguns pensadores e historiadores bem distantes das suas conclusões e convicções, sem faltar o próprio Teófilo Braga.Neste mesmo volume, o ensaio "A Dor de Antero" manifesta esse esforço construtivo e sintético; bem próprio de quem defendia o célebre princípio: "tudo o que é nacional é nosso". "Quando na história crítica das idéias portuguesas se procurarem as raízes filosóficas do movimento integralista, Antero de Quental há-de aparecer, sem surpresa para as pessoas cultas, como um dos nossos precursores mais próximos e diretos." – escreve Antônio Sardinha. Porquê Antero? Em primeiro lugar, porque ele foi discípulo de Proudhon e de Lassalle, e por isso mesmo se não filia na Revolução Francesa. Depois, porque Antero foi talvez – inclina-se Sardinha a admitir – o inspirador remoto da "política de poder pessoal" que El-Rei D. Carlos escolheu. Mas é sobretudo nos traços mais enérgicos da mentalidade anteriana – "inteligência sedenta de certezas", "pensador encantado pelo gosto da Ação" e "precursor das modernas filosofias da intuição", no fim de contas "libertado do lívio sonho nirvanesco que lhe embacia a memória"; "crítico das ilusões da inteligência" – que Antônio Sardinha encontra as mais fundas razões de mestrado intelectual para a sua geração integralista. Neste sentido, conclui o nosso mestre: "Antero é um precursor da inquietação contemporânea, adivinhando, preconizando mesmo, a aliança do pensamento com a ação".Outro grande nome das Letras portuguesas, soldado da bandeira liberal, é também para Sardinha precursor do integralismo. O lugar ímpar de Garrett no santuário integralista aparece também explicado neste volume. O ensaio "A Herança de Garrett" logo de início tira quaisquer dúvidas: "Garrett assinalara no Romanceiro a necessidade de uma larga acção governativa baseada nas preferências tradicionais da nacionalidade. (…) Tais são os fundamentos do seu tradicionalismo, que é também o de Herculano (…)".Assim, Antônio Sardinha não hesita em subscrever as teses essenciais do Romantismo português. Bem ao invés de Maurras, que em França defendia desde os últimos anos do século XIX o prestígio austero da Renascença, soprado desde as alturas da Acrópole, Sardinha escreve, decidido: "No seu regresso às velhas instituições concelhias e à hereditariedade emotiva da raça, o nosso Romantismo, através da figura de Garrett e de Herculano não é, de modo nenhum, a desorganização do sentimento, que – na frase incisiva de Pierre Lasserre – classifica e define o romantismo francês". Por isso o grande pensador português declarava, algures, preferir, de longe, Charles Péguy a Charles Maurras. Não imaginemos, no entanto, Antônio Sardinha arrastado pelas emoções doentias da era romântica, morto de amores pelas névoas e as ruínas…O seu estudo sobre Garrett, parecido com o que dedica a Afonso Lopes Vieira (no capítulo "Nacionalismo Literário"), não é nem por sombras um vago remoer de sonhos "românticos", uma renúncia às fortes disciplinas da inteligência ou às regras inteiras da investigação histórica. Com o louvor de Garrett vem enleado o louvor de Martins Sarmento e Estácio da Veiga, Santos Rocha e Ricardo Severo, Vieira Natividade e António Tomás Pires, "arqueólogos e folcloristas" que prepararam "o barro que há-de cimentar amanhã, nos caboucos antigos da nação, os alicerces dum novo Portugal". Nada fica de fora desses "caboucos": "Mesteirais elevando um aqueduto, gente de guerra sofrendo assédios ásperos"… E o doutrinador conclui: "Nosso mestre e nosso precursor, Garrett ordena-nos que cumpramos o seu testamento. Cumpri-lo é restituir-nos à posse de nós mesmos".Esta ideia, este destino de testamenteiros, volta, aqui ou além, na obra de Sardinha. Mais ou menos expressa, refere-se a Manuel Ferreira Deusdado, a Garrett, a Herculano, a Gama e Castro, a Ribeiro Saraiva, a Antero de Quental, a José Acúrsio das Neves, ao Eça do Fradique Mendes – e, sobre todos, a Oliveira Martins, de quem julgou o integralismo "o Partido póstumo". Porquê, entre todos, Oliveira Martins? Diremos: porque, de todos os precursores do integralismo, é ele quem melhor representa o que há de positivo em todas as escolas. Ser discípulo de Oliveira Martins significa pertencer ao menos partidário dos partidos, ao mesmo tempo que representava trazer no programa a mais moderna, a mais actualizada das doutrinas.Porque – não o esqueçamos nunca! - António Sardinha foi tudo menos um conservador. O seu conceito de tradição, tantas vezes repetido mas tantas vezes confundido, nada tem que ver com a paragem no tempo ou com o interesse mesquinho de guardar o talento debaixo do colchão. "(…) a tradição - escreve Sardinha no ensaio "No Jardim da Raça", dedicado a Luís de Almeida Braga - não é um ponto imóvel no passado. É antes uma continuidade interminável, renovando-se sempre. Reveste-se, deste modo, de um sentido de atualidade para nós, que a vivemos e a experimentamos como coisa nossa, feita da nossa substância quotidiana".Seria preciso um livro inteiro – e não apenas um jornal, para estudar as múltiplas facetas deste volume. Antônio Sardinha espera ainda o estudioso que se agigante a pontos de ombrear com ele, analisando-lhe a obra imensa, dezenas de volumes em que é possível encontrar notícia ou reflexo de toda a sua geração e das gerações anteriores à sua, desde a de 70. O político que queima os seus dias na ação (que vai até subir a encosta de Monsanto) não cala o homem de letras, nem o místico.
Quem escreve estas linhas, simples notícia ou recensão imediata, gostaria de recordar que foi "Ao Ritmo da Ampulheta" o primeiro livro de Sardinha que lhe aconteceu ler, aí por 1939, na hora em que os acontecimentos da história viva lhe faziam compreender agudamente tudo o que há de intemporal na mensagem do Integralismo Lusitano. Para além, certamente, da afogueada polêmica das formas frustes da Democracia…

O número e a democracia

Alfredo Pimenta


Alfredo Primenta(1882-1950) nasceu em Portugal, foi escritor, historiador. Formado em Direito, e com uma intervenção marcante na vida política lusitana, foi nas lides literárias que se distinguiu. Deixou uma extensa bibliografia, onde abundam estudos de filosofia política, história, crítica e poesia. Foi colaborador de numerosos jornais e revistas nacionais e estrangeiras. O marcante texto que se coaduna inteiramente com nosso pensamente, foi estampado na vestusta revista "A Voz", n.º 797, pág. 3, 28.04.1929.



Poucos têm insistido tanto, entre nós, em criticar a Democracia, por ela se basear no Número, como eu.
Sempre que posso, isto é, sempre que tenho pretexto para tal, chamo a atenção dos espíritos reflectidos para a absoluta sem razão que existe numa Doutrina que faz depender a verdade da opinião da maioria. E digo que a verdade é independente do número dos que a professam, podendo estar na minoria, estando, mesmo, por via de regra, fora da maioria. É que não podendo ela ser, e não devendo ser resultante da inteligência média, mas sim das inteligências superiores, e não sendo estas nunca em grande número, nos meios sociais, evidentemente que ou ela sai do reduzido grupo das inteligências superiores, e não é, portanto, obra da maioria, ou sai desta, por maioria ser, e representa a cooperação das inteligências inferiores.
Nas Democracias, porque o Número é a ultima ratio, acontece que a direcção da sua vida e a solução dos seus problemas cabem ao Anonimato, à Irresponsabilidade, porque o Número, por definição é anónimo, e, portanto, é irresponsável.Exemplos de todos os dias, para não dizer de todas as horas, mostram os inconvenientes da Democracia, e, consequentemente, deste critério. As massas, ou por outra palavra, a inteligência mediana em que são absorvidas as inteligências individuais, nem é capaz de reflexão, nem é competente para estudar e prever.
As massas são instintivas, caprichosas, flutuantes, inconsequentes, à mercê dum nada que surge, não sabe donde, e as conduz e domina. A sua obra é fatalmente deficiente, inferior.Não há objecção possível a estas observações e toda a gente as entende. Não há nada mais precário do que o Número como critério da verdade. E quando outras razões não houvesse, havia esta que é fundamental, essencial: é que as unidades não são homogéneas, e nos votos industriais, entram factores das mais variadas origens e categorias. A decisão final, é no fundo uma mixórdia....De resto, basta que o leitor faça esta pequena observação: se o número é o critério da verdade, a verdade não existe, porque o número desloca-se muito facilmente dum prato da balança para o outro. E se o cálculo, hoje, dá um determinado resultado, nada garante que amanhã, feito noutras circunstâncias, não conduza a resultados opostos. Mas se a verdade não existe, como consequência de o seu critério estar no Número, e se este é a base doutrinária da Democracia — a Democracia é um mito, uma mentira, como tantas vezes tenho afirmado. Pelo que concluo que, por um lado, pelo meu, ou por outro, a Democracia é insustentável!

A Realeza

Francisco de Elias Tejada (1917-1978)


A realeza não é algo vazio, como nos liberalismos doutrinários, nem algo onipotente, como nas construções totalitárias o absolutistas. O monarca reina e governa, mas dentro de limites impostos pelas leis fundamentais ou da terra. Impera, sem dúvida, porque é rei; mas impera dentro de leis bem precisas.
E neste terreno é a monarquia tradicional a única forma de governo em que o poder do governante se encontra deveras limitado, porque os marcos que deslindam suas faculdades não consistem em letras frias ou em doutrinas mortas, senão na fecunda realidade social, anterior e distinta do Estado. Donde totalitarismos e absolutismos vêem um instrumento a mais de seu poderio e onde os liberais vêem o vazio do inexistente; nas sociedades intermediárias e autárquicas, encontra a monarquia tradicional o freio efetivo que os demais sistemas políticos ignoram. Por isso a monarquia tradicional é a única forma de governo onde os homens podem sentir-se verdadeiramente livres. Mas, posto que a realeza se encontra ornada de funções ativas, as condições do monarca vem a ser elemento essencial, dai a necessidade de exigir duas legitimidades: a de origem e a de exercício, a legitimidade de títulos na assunção do poder supremo e a legitimidade em aplica-lo ao serviço dos ideais da Tradição das Espanhas. Ambas são essenciais, mas em caso de duvidas prefere-se a legitimidade no exercício à legitimidade nos títulos de origem. O juramento perante os Fueros era condição necessária para a coroação dos reis, indicando-se com isso que a legitimidade de exercício é mais importante que a de origem e que, faltando aquela, esta carece de fundamentos.

quinta-feira, 22 de março de 2007

As Bodas de Caná

Tasso da Silveira

Não me sinto a altura para tentar em algumas linhas mostrar quem foi e o que representou e ainda representa a figura emblemática de Tasso da Silveira na cultura brasileira. Como era de se esperar, um longo eclipse paira sobre a imagem, sobre a obra e ideal do autor de "Canto Absoluto", não obstante o esforço pujante deste destemido editor que é Gumercindo Rocha Dórea (que fora por longa data amigo de Tasso) que recentemente, em 2003, com a contribuição da Academia Brasileira de Letras na pessoa de seu então presidente Alberto da Costa e Silva, editou o livro "Tasso da Silveira – Poemas" com organização e seleção de Ildásio Tavares.
Em outra oportunidade, se assim Deus aprouver, abordarei com mais detalhes as diversas facetas do pensamento e do homem Tasso da Silveira que, Joaquim Ribeiro definiu como "Poeta de feições monásticas".
"...este artista representa um fantasma, quase insuportável, apavorando, castigando a maioria das nossas consciências individuais. (...) este artista apresenta a imagem quase brutal, em nosso meio, da coerência, da probidade silenciosa, do respeito para com seus ideais". (Mario de Andrade)


"Todos os seus poemas, toda essa poesia escrita sem solenidade, encontra aqui sua única razão de ser. Tentar remissão para a humanidade, e, através da remissão conseguida, reintroduzir na terra a inocência perdida" (Adonias Filho).



Dos passos evangélicos iluminados pela presença da Virgem, sem dúvida o da Anunciação e o do Calvário se revestem de mais transcendente e misterioso sentido; mas o de mais tranquilizante e jubilosa significação para a nossa fraqueza humana e para nossa necessidade de amparo é o das bodas de Caná.
Ainda em meio da festa nupcial, a Virgem repara que se esgotou a bebida capitosa que faz a alegria das festas. E num interesse comovente, puramente humano, que, por assim dizer, a Jesus não ocorreria, disse Ela ao divino Filho: "Eles não têm mais vinho".
Jesus entende a sugestão delicada. Mas é com severidade e se diria até com uma ponta de irritação que responde: "Mulher, que há entre mim e ti? Ainda não chegou a minha hora!..."
Que podemos compreender por estas expressões?
Que desde toda a eternidade estava marcado o momento preciso em que o Salvador deveria abertamente mostrar-se aos homens como Deus, operando milagres. E o momento marcado não era aquele das bodas. O pedido da Virgem era ordem de mãe e foi assim que Jesus o entendeu. Mas vinha, essa ordem, alterar toda a economia dos eternos desígnios.
Daí aquela severidade irritada.
Não obstante isso tudo, a Virgem não perdeu sua confiante serenidade, e sem retrucar ao Filho disse de manso aos servos: "Fazei tudo que ele vos disser".
Com que ouvidos de mistério teria ouvido Jesus estas palavras que significavam a ordem reiterada, apesar do que Ele havia dito, e com que olhos de mistério teria visto os servos obedecerem ao que mandara a Senhora! Seja como for, também não discutiu nem insistiu: transformou a água em vinho.
Neste passo, mais que em qualquer outro, é que podemos perceber o poder intercessório da Virgem. No fim de contas Ela alcançou, nesse momento, falando do fundo de sua humanidade humílima, mas também do alto de sua autoridade de mãe de Deus, modificar a vontade absoluta do próprio Deus. Não sei se nos livros sagrados há referência a outro qualquer acontecimento dessa ordem.
Nas bodas de Caná o fato se verifica irrecusavelmente.
Assim, que é a Virgem sagrada para nós?
Em primeiro lugar, a muito humana, a humaníssima, capaz de compreender nossa mais pobre queixa, nosso mais ingênuo pedido, uma vez que não envolva impureza e soberbia. Em segundo lugar, a que tudo pode junto do Filho eterno em favor nosso, a ponto de, se for preciso, quebrar, para atender-nos, o quadro das determinações absoluta da divindade.


(TASSO DA SILVEIRA, in "Diálogo com as raízes – Jornal de fim de caminhada", fragmento datado de 28.4.1955)

sábado, 17 de março de 2007

A cada dia basta sua pena

Gustave Thibon


O homem é o único ser vivo capaz de pensar e de prever o futuro. Este privilégio permite conceber e realizar projetos por meio dos quais - ao contrário do animal que vive no dia-a-dia sob a influência imediata dos seus instintos - o homem pode orientar e construir o seu próprio destino. A previsão é o motor do progresso.
Mas esta preciosa faculdade é também fonte de um número incalculável de ilusões e de sofrimentos.
Com efeito, muitos homens vivem de tal modo no futuro que se esquecem de saborear as alegrias ou de cumprir os deveres da hora presente. E isto, quer porque esperam do futuro uma felicidade ideal, que não é compatível com as condições da vida terrena, quer porque adiam para amanhã o cuidado de se corrigirem dos seus defeitos ou de tomarem certas decisões cuja urgência se faz sentir já hoje. Esquecem que o futuro é apenas um presente diferido e que, se hoje são incapazes de ser felizes e de realizar certos esforços, amanhã encontrar-se-ão com as mesmas limitações e as mesmas dificuldades, de tal modo que, deslocando as suas esperanças de amanhã em amanhã, acabarão por morrer sem nunca ter vivido. "O inferno está cheio de boas intenções" - diz um velho ditado... A mesma obsessão do futuro pode apresentar-se também sob a forma do medo e da angústia. Quantos homens agravam os seus males reais com a imaginação dos males possíveis e sofrem de antemão acontecimentos que talvez nunca venham a ocorrer! Estes terrores são geralmente tão ilusórios quanto as falsas esperanças, porque os males que nos atingem não são quase nunca aqueles que tínhamos previsto. Conheci um homem que vivia na obsessão do cancro; o menor mal-estar parecia-lhe um sintoma da terrível doença; via-se já destruído e condenado pela doença; por fim, acabou por morrer num acidente de automóvel, no qual nunca tinha pensado. Mas, entretanto, tinha estragado a sua vida na expectativa de males imaginários.
Responder-me-ão que há casos em que os males que se receiam não são imaginários e um homem que sofra, por exemplo, de uma doença grave, ou que defronte sérias dificuldades financeiras, tem razões muito legítimas para recear pelo futuro. Direi que tal fato é mais uma razão para não acrescentar á dor presente - que já é demasiado acabrunhante - o peso suplementar da dor futura. Vejamos o caso de um doente. O que o acabrunha e desanima é menos o seu sofrimento atual do que a imagem que cria para si mesmo do conjunto de males que talvez venha a sofrer e de perigos de que se sente ameaçado. "Que mais terei eu ainda para sofrer? Como vou sair disto tudo?" - pergunta a si mesmo. E sente-se esmagado por essa carga de provações futuras, que por agora só existem no seu espírito. Precisamos de aprender a aceitar as provações exatamente como elas nos são dadas, isto é a retalho, aos poucos e no dia-a-dia. "Qualquer que seja o teu sofrimento - dizia Marco Aurélio - podes sempre suportá-lo até ao minuto seguinte: ora, a vida é apenas uma sucessão de minutos". Também já foi dito que, se pusessem diante de um homem o conjunto dos alimentos que ele virá a consumir até ao fim dos seus dias (várias toneladas de pão, de carne, etc...), ele perderia imediatamente o apetite. E contudo, dia após dia, sem pensar nisso, o homem virá realmente a comer toda essa quantidade de alimentos...
"Não vos inquieteis a pensar no amanhã; a cada dia basta a sua pena" - diz-nos o Evangelho. O que nós temos de fazer não é sonhar o futuro,mas construí-lo mediante uma fidelidade sem quebra ao cumprimento das tarefas e dos deveres da hora presente.

Lembrando Gustavo Corção

João Bigotte Chorão
(Trabalho publicado em Dezembro de 1976, ainda em vida de Gustavo Corção {foto}).
*João Bigote Chorão - Crítico e ensaísta português. Licenciado em Direito. Obras principais: O Discípulo Noturno (diário), 1969; Camilo, a Obra e o Homem (ensaio biográfico), 1979; O Escritorio na Cidade (ensaios e crônicas), 1986.
No mesmo ano e um mês antes do presente trabalho, escreveu Bigote Chorão sobre outro grande escritor brasileiro, Plínio Salgado, que consta no livro "Plínio Salgado in Memorian", pela Editora Voz do Oeste.


UM ESCRITOR VERTICAL


Se é exacta a informação da enciclopédia que consulto, o escritor Gustavo Corção ultrapassa agora a difícil barreira dos 80. Quem, vai para três anos ou mais, o viu, de olhos já meio apagados, os ossos bailando num sobretudo talhado para corpo menos frágil, tem que espantar-se da sua capacidade de trabalho e da energia do seu espírito. Todas as semanas, e em mais de um jornal, os seus artigos ágeis e agressivos desmentem junto dos leitores a certidão de idade do autor. O corpo, exausto e doente, reclama a aposentação; mas não lhe consente o merecido repouso o espinho do dever: enquanto lhe restar um sopro de vida, ele ali está a combater pela palavra os desconcertos do século. Corção é um destes espíritos privilegiados que dominam não importa que matéria. Indiferentemente ensina - ele que tanto se orgulha do título de professor - teologia, filosofia, matemática, astronomia, física... Ensinou sempre: ainda estudante, os colegas mais novos ou menos dotados; leccionou no velho colégio da família; depois, noutros estabelecimentos particulares e em estabelecimentos oficiais; mas é no livro e na imprensa que ele tem ensinado gerações de leitores. Com toda a sua cultura, e a sua inteligência, e a sua vocação polémica - que mais não é, para quem tenha olhos e veja, que a máscara da sua indisfarçável ternura -, Corção ensina hoje através de uma intensa actividade jornalística. A religião, ou melhor, a crise da Igreja constitui o tema predilecto, ia a escrever obsessivo, dos seus artigos. Afinando pelos critérios da filosofia tomista e da tradição patrística, Corção vem travando uma luta desigual contra o que se pode chamar a grande coligação clerical-marxista. Noutro tempo os inimigos ficavam fora do templo; hoje estão dentro dele - para melhor o demolirem. Se as heresias são necessárias para robustecer a fé, a verdade é que não vemos aí nem uma sólida elaboração teológica nem grandes obras ascéticas em resposta ao desafio dos novos tempos e dos falsos profetas. Pelo contrário, vemos como é tíbia a reacção à audácia do adversário. Mais: observamos uma espécie de cedência ou de pacto, que começando pelo uso da linguagem do adversário acaba pela adopção da sua filosofia. A colaboração, ab initio confinada à ordem prática, vem a converter-se em colaboração no domínio dos princípios. Os objectivos, que - por pudor ou hipocrisia - se afirmam a princípio diversos, revelam-se no final convergentes. É contra esta colaboração com quem pretende destruir-nos depois de se haver aproveitado da nossa ingenuidade, da nossa ignorância, da nossa cobardia ou da nossa estupidez, que se ergue Corção. Não lhe falta, para o áspero combate, nem a preparação doutrinal nem os recursos dialécticos, a ironia e o estilo. Não lhe falta, ainda, a coragem moral de gritar o que nós apenas ciciamos e de trocar o aplauso mundano pelo insulto, o silêncio, a solidão. Ele sabe que não estamos aqui, nesta selva em que erramos como meninos ou como tontos, para sermos coroados de louros. Se alguma coroa nos está reservada, é a de espinhos. Ah!, os cães (para usar a vigorosa linguagem do profeta Isaías) que não dormem e ladram à aproximação de lobo recebem como recompensa a ira dos pastores, que pegam do cajado para castigar os guardiões fiéis e não para afugentar as feras que rondam o rebanho. O leitor habitual de Corção conhece quais os autores que ocorrem com maior assiduidade nos seus escritos. Paulo, Tomás de Aquino, Catarina de Siena são os seus santos patronos: S. Paulo, que combatia o bom combate com inteligência e idioma de fogo; S. Tomás, que lembrava uma catedral gótica, solidamente implantada na terra, mas de agulhas perdidas no céu; Santa Catarina, que extraía da sua ignorância uma inspirada sabedoria. Vêm depois os autores profanos: em primeiro lugar, Machado de Assis, com a sua prosa enxuta e o seu humor trágico; o maciço Chesterton, com a agilidade inesperada dos seus paradoxos, bom filósofo na pele de um divertido jogral; Maritain, o sério tomista; o impaciente mendigo Bloy, profeta de um advento de luz ou de sangue; o nosso Camões, glosando, num canto magoado e viril, o eterno mote do desconcerto do Mundo; o nosso Eça, com a galeria das suas personagens e a graça do seu estilo; o nosso Pessoa, com uma lucidez que chega a parecer insensata. Não são muitos os autores que Corção exiba num alarde de novo-riquismo intelectual. Mas são autores, todos eles e a diverso título, assaz recomendáveis. Gaba-se até Corção de frequentar poucos autores. E recorda que, sendo estudante, teve a fortuna de manusear a Antologia de Carlos Laet e Fausto Barreto, onde aprendeu "a discernir as riquezas, a admirar a beleza da língua e a amar os autores que tão bem a serviram. Desde cedo - acrescenta Corção -, querendo mais pegar a alma da língua do que a variedade cultural, poucos autores e poucas obras me bastavam. Com a Antologia de Fausto Barreto e Carlos Laet, eu dispensava bibliotecas inteiras ou para elas avivava o apetite". (0 Globo, 1 de Fevereiro de 1975.) Conheço Corção desde que me conheço como leitor que busca e encontra - não os teria encontrado se os não tivesse procurado - os seus próprios autores. Esses autores – e Corção é um deles - foram a alegria da minha juventude e a minha verdadeira universidade. Ensinei-me a mim mesmo, lendo obras que ninguém me recomendava mas que um instinto seguro me fazia descobrir. Se não tivesse encontrado Corção - nessa idade em que o espírito a tudo se afeiçoa, caminho, e estaria agora onde estão muitos que desertaram. Não aceitava naquele tempo como não aceito hoje (isto de palavra revelada só a da Bíblia ou, para o não crente, a de qualquer cartilha política que rumina até ao nojo a voz do dono) tudo quanto Corção escrevia ou escreve. Mas, tentando sempre distinguir o essencial do acessório, nunca pude deixar de reconhecer a Corção o seu dom de escritor e a sua verticalidade de homem. Quando todos nos acomodamos, numa tácita ou expressa cumplicidade, dispostos a entrar num diálogo que é afinal um monólogo imposto pelo adversário, lá vem aquele desmancha prazeres do Corção a chamar as coisas pelo nome. E nada escapa à férula do polemista, que não recua diante de títulos ou de cargos, nem cuida de vénias mundanas e de habilidades diplomáticas. Tudo jogou no combate: o descanso merecido, a popularidade fácil, toda a sorte de prémios mais ou menos vis. Ora digam-me cá se, no meio de todo este espectáculo de prostituição literária, não será muito para ver-se e aplaudir-se o exemplo de um grande escritor que é também um homem vertical.


Da Dignidade Política

Henrique Barrilaro Ruas
A crise da Política vem de Maquiavel: não apenas distinta, mas separada da Religião, deixou de ser «arte régia» para se reduzir a mera técnica. A partir daí, todas as desgraças lhe podiam acontecer – desde a insuportável arrogância, até à definitiva humilhação.Quando Pascal, aceitando o golpe cartesiano e apoiando-se em terminologia matemática, estabelece a teoria das «ordens», faz da helênica «arte régia», já abençoada pelo Espírito de Cristo, nada mais que um «reino da concupiscência». Falsa imagem, ou caricatura, do «Reino da Caridade», a que só Deus preside, a Política não vai além de um pobre sistema de relações entre o Príncipe, que é dono dos bens desejados pelos súbditos, e os pobres súbditos, cuja condição se define pelo desejo desses bens.O Iluminismo, que transforma as mentalidades, preparando a era das ideologias, confunde as realidades e os problemas, diviniza o humano, humaniza o divino, e destrói a ordem das faculdades humanas.Quando o imenso progresso das ciências físicas torna mais necessário um sistema de valores, é que o antropocentrismo de raiz renascentista rejeita a tradição teocentrica. Então, o homem individual deixa de ser olhado como pessoa, sede e fonte de valores espirituais, imagem e semelhança do Criador, para surgir, ou como sol absoluto, ou como simples átomo da natureza.A política perdeu, assim, a sua dignidade. O individualismo filosófico vai conduzir, quer ao liberalismo inquieto, quer ao totalitarismo massificante.A humanidade de hoje tem necessidade de tomar consciência dos valores políticos, integrados num autêntico humanismo. Como ensinou S. Tomás de Aquino, a Política deve – e pode – preparar as comunidades para a salvação. Não tem poder salvífico; mas é propedêutica da salvação.

(In Lusitana Antiga Liberdade, Terça-feira, 24 de Junho de 2003)

Juventude Rebelde

Professor Adib Casseb

25 anos de magistério, dos quais 20 no ensino superior, conferem a ADIB CASSEB especial autoridade para falar sobre a juventude. Sobretudo porque ele não é apenas o professor preocupado em transmitir conhecimentos técnicos a seus alunos, mas também o educador, na correta acepção do termo. Lecionando Economia Política e Direito Comercial, na Faculdade Paulista de Direito e na Faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, bem como na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Campinas, não dissocia dessas funções a do apostolado entre a juventude.

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A obra dos adultos


É certo que há uma minoria de infelizes jovens, totalmente desorientados, dominados por uma profunda inquietação, e que vão aos poucos se destruindo por uma mórbida angústia, que os conduz a explosivas revoltas contra tudo e contra todos.
Desde logo, o comportamento desses pobres moços revela sintomas graves de que realmente se trata de um fenômeno de patologia psico-social, a exigir a atenção de sociólogos, psicólogos, educadores e sacerdotes.
São esses moços, em grande parte, vítimas de um desajustamento que é determinado, de um lado, pela omissão consciente ou inconsciente dos pais, e, de outro lado, pelo vendaval de desatinos que atinge os mais variados setores da vida social, desorientando orientadores, mestres e diretores espirituais.
Basta lembrar como, até pouco tempo, o jovem formava a sua personalidade. A educação tinha inicio no lar, geralmente bem constituído e solidamente estruturado. Era a família o habitat ideal, em que a criança recebia os primeiros ensinamentos, baseados nos princípios cristãos de seus pais.
Continuava a criança completamente sob a influencia dos pais até atingir a idade escolar, quando escapava um pouco da orientação paterna. Mas nisso ainda não havia graves inconvenientes, eis que a escola conservava aqueles mesmos princípios que o adolescente recebera em casa. Era costume dizer-se que a escola era um prolongamento do lar, completando com ensinamentos sadios a formação do jovem. A escolha do educandário nunca era difícil. Quantas vezes, consultados por pais acerca de qual o colégio que deveriam escolher, sem vacilar indicávamos: ser for menino, colégio de padres; e se for menina, colégio de freiras.
Hoje, poderíamos, em sã consciência, faze-lo com a mesma decisão e tranqüilidade?
Além disso, o jovem, paralelamente com os ensinamentos que lhe eram ministrados na escola, encontrava na Igreja a mesma fé dos seus maiores e ouvia as mesmas orações que aprendera no regaço materno, ao som daquelas mesmas músicas, que para Santo Agostinho, canta-las era rezar duas vezes.
Tudo se mantinha fiel a si mesmo. O pecado era pecado, o céu era céu e o inferno era inferno. O sacerdote, o homem austero e simples, que se habituara a respeitar e a amar; em cujo confessionário penitente muitas vezes se ajoelhava; e de cujas mãos santas recebia, sem qualquer sombra de dúvida, Cristo Vivo na Eucaristia.
A Igreja contemplava, assim, a personalidade do jovem.
E o que ocorre neste mundo de hoje?
A começar do lar... Não há necessidade de a criança atingir a idade escolar, para escapar da orientação paterna e receber as más influencias de fora para dentro. Desde a mais tenra idade, a criança recebe através da televisão, dentro do próprio lar o impacto de programas desprimorosos, que vão corroendo paulatinamente toda a sua escala de valores morais.
E fora de casa a desorientação é total. O que ocorre nos colégios, nas ruas, nos cinemas e até na igreja é tão notório que aqui nos permitimos poupar a amargura de repeti-lo.
Trabalhados por tantas forcas de desagregação de seu caráter, como estranhar que jovens infelizes se transformem em revoltados contra tudo e contra todos, dispostos a levar ao paroxismo as mensagens de subversão no plano dos costumes, da política, da arte e da religião?
A principal culpa por esses fatos cabe àqueles aos quais incumbe orientar, educar, formar a personalidade dos jovens. Por isso, para acabar com toda a desorientação reinante, é preciso que os responsáveis tenham a coragem de reconhecer e eliminar as suas principais causas: nos lares, que os pais dêem testemunho de seu próprio exemplo e reconquistem a sua posição de hierarquia subvertida; nas escolas, que se restaurem os valores banidos; e, na Igreja, que se restabeleça o principio de autoridade.

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*In HORA PRESENTE, Ano I, Setembro/Outubro de 1968, N 01, p.165/166.

O direito à vida sob a luz da Constituição Federal

Clovis Lema Garcia
Presidente do Centro de Estudos de Direito Natural "José Pedro Galvão de Sousa

I. A Presidência do Centro de Estudos de Direito Natural "José Pedro Galvão de Sousa" vem, publicamente, manifestar sua grave preocupação com o entendimento adotado em venerável decisão monocrática liminar proferida por ilustre ministro do colendo Supremo Tribunal Federal, em matéria de aborto eugenésico.
II. De começo, é relevante observar que compete à Suprema Corte do Brasil, de modo precípuo, a guarda da Constituição (art. 102, caput, da Constituição Federal de 1988), e, entre os direitos fundamentais arrolados nessa mesma Constituição, encontra-se a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput).
III. O aborto eugenésico —prática tristemente célebre em regimes totalitários— constitui crime no Direito Penal brasileiro em vigor. A particular vinculação do Direito Penal ao campo da Ética não se acomoda com a discricionariedade judiciária que leve à descriminalização de fatos quando, por força de norma regular, correspondam a tipos penais vigentes. Não é demasia anotar, neste passo, que semelhante descriminalização judicial interfere na competência legislativa —a quem incumbe, de maneira canônica, a elaboração das leis penais: nullum crimen, nulla poena, sine lege stricta.
IV. Preocupa, nomeadamente, o fato de que, uma vez admitido o aborto eugenésico —por motivo seja, agora, de anencefalia, seja, adiante, de outros males do produto da concepção—, estar-se-á, coerentemente, a justificar os homicídios de neonatos com deficiências símiles.
V. Acentue-se que, à luz da Convenção Americana sobre Direitos Humanos —Pacto de São José da Costa Rica—, que se internalizou na ordem jurídica do Brasil, pessoa é todo ser humano (art. 1º, n. 2), sem distinção de raça, sexo, nacionalidade, religião ou de sua vida intra ou extra-uterina.
VI. O egrégio Supremo Tribunal Federal é a Corte suprema de Justiça do Povo brasileiro —povo gestado na Fé e na Tradição autenticamente cristãs. É por isso digno de esperança que opiniões individuais não prevaleçam sobre o firme, atual e histórico ânimo de toda nossa gente.
São Paulo, 8 de setembro de 2004

domingo, 11 de março de 2007

70 anos do início da Cruzada Espanhola

Por Victor Emanuel [Vilela Barbuy]
victor.emanuel.brasil@gmail.com

"Muito nos honra figurar em nosso blog o presente trabalho de Victor Emanuel Vilela Barbuy, pela clareza de seus argumentos e riqueza de contéudo ausentes na maioria dos veículos de informação onde predomina o sofisma e a má fé provindas da distorção dos fatos históricos com alta carga ideológica visivelmente de caráter marxista e ateu. Nos presenteia o jovem autor com uma das mais belas e obscuras passagens da história da Espanha Católica hoje fatidicamente dominada pelos agentes da maçonaria como bem o demonstra Ricardo de la Cierva, com uma legislação laica e anti católica, inclusive com a lastimável condescendência e altos membros do clero. Por isso a leitura do presente trabalho se torna indispensável". Fernando Rodrigues Batista

Celebra-se no próximo 18 de julho o 70º aniversário do alçamento, do levantamento nacional contra o bolchevismo na Espanha e – a fim de que não passe em brancas nuvens data tão significativa para todos os que combatem pela Fé, pela Tradição e pela Liberdade – resolvi escrever este pequeno e singelo texto.É de causar azia a leitura dos livros de ESTÓRIA escritos neste País, dessas cartilhas do mais rasteiro e abjeto marxismo travestidas de "manuais de História" e repletas de crassos erros factuais, de graves omissões e de absurdas calúnias contra os mais expressivos vultos da História Pátria e Universal. Esses livrinhos desprezíveis pintam a Guerra Civil Espanhola como a luta do povo espanhol contra os "fascistas de Franco" e falam muito das atrocidades cometidas pelos "fascistas", do bombardeio de Guernica pela Legião Condor e do assassinato de García Lorca, olvidando que os vermelhos cometeram muito mais atrocidades do que os nacionalistas, fuzilando várias dezenas de milhares de civis inocentes e incendiando inúmeras igrejas, e jamais mencionando o massacre de religiosos (foram mortos pelos comitês de milícias que atuavam com poderes paralelos ao governo de Madri cerca de sete mil deles, entre membros do clero secular, sacerdotes, freiras e até treze bispos) e o assassínio de Calvo de Sotelo, de Ramiro de Maeztu, de José Antonio Primo de Rivera, de Víctor Pradera e de tantos outros grandes líderes políticos e pensadores tradicionalistas espanhóis pelos vermelhos, enchendo a Espanha Sagrada de vergonha e estupor.Como bem observa o Mestre José Pedro Galvão de Sousa – a quem devo em grande medida minha consciência hispânica e cristã e minha aversão ao comunismo ateu, sanguinário e escravizador e ao liberalismo agnóstico e gerador de profundas desigualdades sociais e de antagonismos de classes – em seu artigo "A Lição da Espanha", publicado em "A Gazeta" a 18 de julho de 1961, no 25° aniversário do levantamento do povo espanhol contra o bolchevismo, "A guerra civil espanhola tem sido objeto dos mais tendenciosos comentários e das mais falsas interpretações. Sua história ainda está por se escrever, mas o fato é que, muito mais do que a experiência de comunistas e fascistas para a guerra a se desencadear mais tarde, ela representou uma reação das forças tradicionais daquela nação contra o comunismo imperante no governo republicano."A Guerra Civil Espanhola constitui, antes de tudo, a luta dos exércitos brancos da Fé, da Pátria, da Cultura e da Liberdade contra as hordas vermelhas da escravidão e do totalitarismo bolchevista. É a Cruzada de todo um povo contra o materialismo grosseiro, contra uma civilização que soube progredir tecnicamente mas não moralmente e que aumentou a riqueza mas não a distribuiu de maneira justa e eqüitativa, gerando o ódio, a miséria e a luta de classes.Por Cristo Rei e pela Espanha Sagrada se batiam os nacionalistas, ao passo que os vermelhos combatiam por Marx e pela imperialista Rússia Soviética do tirano Stálin (cuja imagem foi colocada em diversos lugares públicos da zona dominada pelos vermelhos, como na Porta de Alcalá, em Madri).Os nacionalistas, como afirmou o General Francisco Franco, no discurso que proferiu do terraço do palácio do governo, em Burgos, no dia em que assumiu o comando das forças revolucionárias do "Movimiento Salvador", diante da enorme multidão que se apinhava na praça, não defendiam o capitalismo, mas sim combatiam pelo povo da Espanha e para os trabalhadores, os quais teriam todos os direitos, embora não pudessem olvidar-se de seus deveres.Não há nada mais falso do que se afirmar que os nacionalistas lutavam contra a democracia, uma vez que, ao contrário, defendiam eles uma democracia efetiva, uma democracia integral, uma verdadeira democracia em que todos os cidadãos participassem do governo por meio de sua atividade profissional e de sua função específica.Como disse o Generalíssimo Francisco Franco em seu famoso Discurso de Unificação das forças que colaboraram no alçamento e passaram a constituir a Falange Española Tradicionalista y de las JONS (Juntas Ofensivas Nacional-Sindicalistas), proferido a 19 de abril de 1937, "Se invoca en las propagandas rojas la democracia, la libertad del pueblo, la fraternidad humana, tachando a la España Nacional de enemiga de tales principios. A esta democracia verbalista y formal del Estado liberal, en todas partes fracasada, con sus ficciones de partidos, leyes electorales y votaciones, plenos de fórmulas y convencionalismos, que, confundiendo los medios con el fin, olvida la verdadera substancia democrática, nosotros, abandonando aquella preocupación doctrinaria, oponemos una democracia efectiva, llevando al pueblo lo que le interesa de verdad: verse y sentirse gobernado, en una aspiración de justicia integral, tanto en orden a los factores morales cuanto a los económico-sociales; libertad moral al servicio de un credo patriótico y de un ideal eterno, y libertad económica, sin la cual la libertad política resulta una burla."Conforme disse anteriormente, a Cruzada que teve início a 18 de julho de 1936, quando se sublevaram, sob o comando do General Francisco Franco, as tropas do Marrocos espanhol, é, sobretudo, uma Cruzada contra o bolchevismo. Com efeito, declarou Franco ao "Leipziger Illustrierte Zeitung", em julho de 1937, que os nacionalistas lutavam "por librar a nuestro pueblo de las influencias del marxismo y del comunismo internacionales, que se introdujeron en nuestro país para hacer de España una sucursal del bolchevismo moscovita. Queremos salvar por esta lucha los valores morales, espirituales, religiosos y artísticos creados por el pueblo español a lo largo de una gloriosa historia, y que constituyen la base nuestra existencia nacional e individual."A Guerra de Libertação da Espanha, consoante declara o Generalíssimo Francisco Franco, a 27 de agosto de 1938, à Agência "Havas", "La guerra de España no es una cosa artificial: es la coronación de un proceso histórico, es la lucha de la Patria con la antipatria, de la unidad con la secesión, de la moral con el crimen, del espíritu contra el materialismo, y no tiene otra solución que el triunfo de los principios puros y eternos sobre los bastardos y antiespañoles."A 02 de novembro do mesmo ano, declara o Caudilho ao "La Nación", de Buenos Aires, que a luta dos nacionais é em defesa da existência e da independência da Espanha, que, como sabemos, estavam seriamente ameaçadas pelo imperialismo russo-soviético: "Estamos defendiendo la existencia e independencia de España frente al comunismo tiránico que intentó rusificar nuestra alma. Queremos salvar la continuidad sagrada de nuestra historia frente a los que quieren hacer tabla rasa de los eternos principios que informan la vida española. Queremos asegurar a España, por medio de su Revolución nacional, un porvenir lleno de justicia y prosperidad. Queremos, en definitiva, asumiendo una vez más nuestro papel de adelantados de la civilización, salvar al mundo entero de la ruina fatal y segura a que conducirá el triunfo del comunismo."O "Alzamiento Nacional" da Espanha teve, desde seus momentos iniciais, um caráter eminentemente popular, pois foi o povo quem, justamente com as milícias, secundou o Exército, que cumpria a vontade da nação, consciente de seu destino histórico, e os sagrados deveres que, como a salvaguarda da Pátria, de sua Cultura e de suas instituições cristãs, estavam previstos em sua lei constitutiva.O inevitável triunfo integral dos nacionais, consumado a 1° de abril de 1939, o Dia Vitória, não é apenas o triunfo da Espanha e de seu povo contra o comunismo, mas sim de todo o Ocidente, pois a vitória dos vermelhos na Espanha seria vital para a expansão das chamadas "frentes populares" em toda a Europa Ocidental. Foi, portanto, a Espanha, a mesma Espanha Sagrada que derrotara a frota turco-otomana em Lepanto, salvando a Europa e o Cristianismo do avanço da meia-lua, quem salvou a mesma Europa e o mesmo Cristianismo do avanço da foice e do martelo, se alçando contra um governo anticonstitucional, fraudulento e tirânico e pondo cobro à revolução bolchevista em marcha.O triunfo do Movimento de 18 de julho, após três longos anos de guerra civil, foi o primeiro e por algumas décadas o único triunfo em campo de batalha de uma nação do Ocidente contra o comunismo e acabou com o mito da inexorabilidade da revolução marxista, desmentindo, ademais, a profecia de Leon Trótski, para quem a Espanha seria, depois da Rússia Soviética, o primeiro país a instaurar um regime comunista, uma "ditadura do proletariado".Termino o presente texto com uma pequena homenagem, em nome do Brasil e de seu povo, a todos os espanhóis e estrangeiros que tombaram na Cruzada, alguns em defesa da Fé e da Liberdade, outros, na maioria inocentemente, a serviço da revolução bolchevista e do famigerado Komintern.

¡Arriba España! ¡Viva Cristo Rey!

quinta-feira, 8 de março de 2007

A hora da ação

Fernando Rodrigues Batista


"Quando Deus apaga é que Ele quer fazer alguma coisa"
Joseph de Maistre



Nunca, talvez, a salvação da sociedade dependeu do esforço de um número tão pequeno de pessoas.
O muro de Berlim ruiu, pondo à mostra os equívocos do marxismo, todavia, não sepultou seus agentes, que aí estão, nesse submundo, a agir como cupins, a destruir os valores religiosos, a deformar a cultura, a fazer da arte, não o culto da forma, porém, o culto das deformidades. A regra do mundo moderno é o desregramento.
A Revolução cultural e religiosa parece não ter encontrado obstáculos à sua ação perniciosa.
A união européia, com seus agentes, marxistas, maçons e toda sorte de demônios encarnados, parece ter olvidado que sua história foi erigida mormente pelo sangue dos Santos, honra da catolicidade e do ocidente, pela nobreza e pujança dos Reis Cristãos e pela destreza da Cavalaria. Tudo isso foi riscado do mapa em nome de uma democracia capenga, de uma igualdade aviltante preconizada pelos "fazedores" de Constituição, seguindo à risca os ditames dos senhores da Nova Ordem Mundial, agnóstica, maçônica. O sofisma é uma escamoteação de vocábulos.
Nos países da América Latina, a realidade não é menos terrificante. O terrorismo dos grupos guerrilheiros e narco-traficantes da esquerda foi institucionalizado na calada da noite sob o aval dos Lulas, Chavez, etc., e com a condescendência não menos criminosa de quase todos meios de comunicação.
Busca-se apagar tudo quanto nos remeta ao legado de nossos maiores, a tradição católica da heróica Espanha e do valente Portugal. É a Revolução cultural, mas antes de tudo, a Revolução religiosa.
Basta uma simples análise, e veremos: nossa cultura nada tem de cristã, nossas escolas são laicas, nosso modo de ser é pagão; nossas leis são anti cristas, contraria a ordem natural. A confissão católica do Estado foi suprimida em quase todas as nações, logo, a vida pública foi gradativamente corroída pelos princípios revolucionário e relativistas. Nossa religião, outrora honradamente católica, converteu-se em filo-comunista-protestante-maçonica.
Não há mais tempo há perder, proclamava Pio XII, de venerável memória. Eis que é chegado a hora da vontade, hora de desembainharmos a espada da coragem e avançar ao campo de batalha. Portanto, a ação. Ela constitui o grande dever da hora presente.
Abdiquemos o espírito burguês que de há muito apodrece no recôndito de nossas almas.
Hoje não somos uma maioria que não atua, como anuiu certa feita D. Sebastião Leme. Mas o tempo é chegado, e não cabe tergiversar. Não esperemos que a restauração da ordem virá dos liberais ou dos neo conservadores, como se diz.
Somos uma minoria, mas é imprescindível que essa minoria queria e saiba querer. Procurai um homem que sabe dizer "eu quero" e a história vos contará os prodígios de seus triunfos, dizia um antigo pedagogo.
Sabeis, outrossim, que uma das causas da mediocridade da vida é a ausência do querer.
Generosidade de dedicação, vigor de iniciativa, perseverança no esforço, eis o dever indeclinável da hora presente.
Os inimigos estão apostos e assim como os "iluminados" que os pariram, desejam uma só coisa: "destruir".
Neste mundo transtornado, salienta Gustave Thibon, o combate mais duro e o maior risco estão do lado dos defensores da ordem contra o caos e da sabedoria contra a loucura.
Este magnífico combate, eis a tarefa que à nossa geração impõe a Providência, sejamo-lhe fiel.
Tenhamos cuidado, portanto, para não merecermos ouvir dizer aquilo que a mãe do último Rei mouro de Granada lançou contra seu filho, quando teve de abandonar sua capital:
"É inconveniente chorar e barafustar como uma mulher, quando se está em vias de se perder aquilo que não se teve vontade de defender como Homem".

sábado, 3 de março de 2007

A Igreja e o Mundo Moderno

Pe. Julio Meinvile*

"O mundo moderno é por essência totalitário. Poderá deixar de ser liberal e também comunista, porém não deixara de ser totalitário. Porque o que o distingue e o constitui é precisamente o enfrentar-se com a Igreja e pretender, sem Ela, abarcar todo homem. Demais a mais... o Mundo Moderno, ao constituir-se em Deus, tem que absorver todas as atividades e aspirações do homem. O Mundo se converte em Igreja. Em Contra-Igreja. Em suma "Teocracia" absoluta e totalitária. (p. 119-120)
"A Europa Cristã, que ainda continua alimentando e sustentando os poucos restos de valores humanos subsistentes no mundo de hoje, foi levantada por Reis e monges santos, que trabalharam eficazmente pelo bem dos povos, precisamente porque haviam sabido tomar a sério o Evangelho e realizá-lo em si mesmos pelo perfeito desprendimento do amor a si mesmos e pelo perfeito amor de Deus" (p. 112-113)
"A civilização moderna, ou a Revolução, apresenta-se-nos como um processo canceroso, que se desenvolve sobre o corpo vigoroso da civilização cristã e que a esta devorando numa ação de cinco séculos. As grandes manchas deste processo canceroso tomam o nome de naturalismo, liberalismo, socialismo, comunismo e tecnocracia" (p. 154)
"Primeiramente, o homem vê-se privado de sua condição de imagem sobrenatural de Deus que a verdade e a graça de Cristo lhe proporcionam. Fica reduzido à sua condição puramente humana, racional, filosófica, política; é imagem natural de Deus por sua inteligência e vontade. Mas logo, quando o processo de degradação continua, outra Revolução se verifica, outra degradação, que consiste na privação desta imagem natural de Deus, e em consequência fica o homem reduzido à condição de puro animal, sem outra preocupação que a satisfação das necessidades materiais proporcionadas pelo gozo sensível da vida. O homem passa a viver impulsionado pelo gozo econômico das riquezas"
"O homem totalmente degradado e sem o ordenamento do sobrenatural, do natural e ainda do animal, não há de servir senão para ser utilizado como uma peça na edificação da sociedade máquina, da torre de babel" (p. 164)

*MEINVILE, Julio. La iglesia y el mundo moderno, Ediciones Theoria, Bs As.

Fernando Rodrigues Batista

Quem sou eu

Minha foto
Católico tradicionalista. Amo a Deus, Uno e Trino, que cria as coisas nomeando-as, ao Deus Verdadeiro de Deus verdadeiro, como definiu Nicéia. Amo o paradígma do amor cristão, expressado na união dos esposos, na fidelidade dos amigos, no cuidado dos filhos, na lealdade aos irmãos de ideais, no esplendor dos arquétipos, e na promessa dos discípulos. Amo a Pátria, bem que não se elege, senão que se herda e se impõe.

"O PODER QUE NÃO É CRISTÃO, É O MAL, É O DEMONIO, É A TEOCRACIA AO CONTRÁRIO" Louis Veuillot