"Temos que lutar por todas as coisas boas que ainda restam até o último reduto. Prescindindo de si essas coisas serão todas «integradas de novo em Cristo», como dizia São Pio X, por nossas próprias forças ou pela força incontrolável da Segunda Vinda de Cristo. «A Verdade é eterna, e ha de prevalecer, seja que eu a faça prevalecer ou não». Por isso devemos nos opor a lei do divórcio, devemos nos opor a nova escravidão e a guerra social, e devemos nos opor a filosofia idealista, e isso sem saber se vamos vencer ou não. «Deus não nos pede que vençamos, Deus nos pede que não sejamos vencidos». A Igreja é eterna!, dizem os democristãos. A Igreja é eterna no sentido que Jesus Cristo falou; mas a organização externa da Igreja, digamos o Vaticano, não é eterna: essa organização tem sido quebrada e reformada muitas vezes. E a Igreja será quebrada ao final do mundo. O que é eterno é alma do homem unida a Deus... unida a Deus para ser usada (San Agustín y nosotros, págs. 106-107).
"Quando já não reste nada por salvar, sempre e no entanto há que salvar a alma (...) É muito possível que sobre a pressão das pragas em que está caindo sobre mundo, e dessa nova falsificação do catolicismo, no contexto da cristandade ocidental se segue desfazendo de tal forma que, para um verdadeiro cristão, dentro de pouco não haverá nada que fazer na ordem da coisa pública. Agora, a voz de ordem é ater-se à mensagem essencial do cristianismo: fugir do mundo, crer em Cristo, fazer todo o bem que se possa, desapegar-se das coisas criadas, guardar-se dos falsos profetas, recordar a morte. Em uma palavra, dar com a vida testemunho da Verdade e desejar a volta de Cristo. Em meio disso, temos que buscar nossa salvação cuidadosamente (...) Os primeiros cristãos não sonhavam em reformar sistema judicial do Império Romano, senão com todas suas forças em ser capazes de enfrentar as feras; e em contemplar com horror no imperador Nero o monstruoso poder do diabo sobre o homem (A modo de Prólogo. Decíamos ayer, páginas 31-32).
«Há que se trabalhar como se o mundo como se o mundo houvesse de durar para sempre; mas há que se tem em mente que o mundo não vai durar para sempre». Esta atitude, aparentemente contraditória ou impossível, tem sido sempre a consigna dos espíritos religiosos em todas as grandes crises da história. Os dois términos parecem inconciliáveis; e o seriam se não fosse pelo misterioso catalítico que é a fé. Mas, o valor pragmático da atitude apokalyptica pode apreciar-se ainda fora da fé, por um positivista de talento, por exemplo. Por isso não hemos vacilado em publicar, e isso com não poucos esforços e risco, em meio da incerteza e a dor desta hora, um ensaio sobre o Apokalypsis, que a superficialidade de algum qualificará, sem dúvida, de «pessimista». É pessimismo construtivo (Visión religiosa de la crisis actual. Cristo, ¿vuelve o no vuelve? página 284).
Há muita substância para o filósofo esta frase do Anjo: "O tempo se acabou". O fim da criação de Deus é intemporal, ainda que para esse fim se mova o Tempo. O término e o fim do mundo não coincidem omnímodamente; pois sabe-se que um movimento pode chegar a seu término sem alcançar seu fim; simplesmente pode fracassar como tem fracassado tantas grandes empresas humanas; começando pela torre de Babel e acabando pela Sociedade das Nações.O término da Historia será uma catástrofe, mas o objetivo divino da História será alcançado em uma meta-história, que não será uma nova criação senão uma transposição; pois "novos céus e nova terra" significa renovadas todas as coisas de acordo a seu prístino patrão divino.Assim como a Providência e a ação - inclusive milagrosa - do Alvedrio de Deus acompanha a história do Alvedrio do Homem, assim em sua resolução e fim intervirão ambos agentes; e por isso o Fim do Mundo será Duplo. A Humanidade se suicidará; e Deus a ressuscitará; não fazendo-a de novo, mais transpondo-a ao plano do Eterno. (...)O talante do Cristianismo não é Pessimismo; menos ainda é o Otimismo beato da filosofia iluminística, o famoso "Progresso Indefinido". A Profecia cristã nos da uma posição que está acima desses dois extremos simplistas, onde caem hoje todos "os que não tem o selo de Deus em suas faces". O mundo dirige-se a uma catástrofe intrahistórica que condiciona um triunfo extrahistórico; ou seja una transposição da vida do mundo em um pósmundo; e do Tempo em um Supertiempo; no qual nossas vidas não vão ser aniquiladas e logo criadas novamente, senão - como é digno de Deus- transfiguradas elas todas por inteiro, sem perder um só de seus elementos (El Apocalipsis de San Juan, páginas 124-126).
"Os espíritos religiosos, como bons médicos, cheiram a morte, mas seguem medicando. É a atitude paradoxal da fé. A fé assegura ao cristão que este ciclo da Criação tem seu fim; que o fim será precedido por uma tremenda agonia e seguido de uma esplendida reconstrução; ou em palavras religiosas que «Cristo volta um dia a por a seus inimigos de assento de seus pés e a tomar posse efetiva do Reino dos Céus trasladado a terra...» Assim o diz o Texto, eu não sou só o responsável por esta enormidade (...) Por um paradoxo de psicologia profunda, esta literatura pessimista tem sustentado o otimismo construtivo do Cristianismo (Visión religiosa de la crisis actual. Cristo, ¿vuelve o no vuelve?, página 285).
Quando as imensas vicissitudes do drama da Historia, que estão por cima do homem e seu mesquinho racionalismo, chegam a um ponto que excede a seu poder de medicação e inclusive a seu poder de compreensão - como é o caso em nossos dias -, só o crente possui o talismã de ficar tranqüilo para seguir trabajando (...) Quando parece que os cimentos do mundo cedem e se decompõem totalmente a estrutura íntegra - como passou, por exemplo, no século XIV- então o sábio lê o Apokalipsis e diz: «Tudo isto está previsto e muito mais. ¡Atentos! Mas depois disso vem a vitória definitiva. O mundo deve morrer. Ainda que muitas enfermidades tem curado já, uma enfermidade será a última. Mas, a alma do mundo, como a do homem, não é uma coisa mortal» (...) A consideração da visão religiosa da crise atual é um dos motores mais poderosos (o primeiro motor inclusive) do movimento político e econômico. Se o homem não tem uma idéia de a donde vai, não se move; ou, se, se segue movendo, chega um momento em que seu movimento deixa de ser humano e se volta uma convulsão (Visión religiosa de la crisis actual. Cristo, ¿vuelve o no vuelve?, pág. 286).
"A união das nações em grandes grupos, primeiro e depois em um só Império Mundial (sonho potente e grande movimento do mundo de hoje) não pode fazer-se senão por Cristo ou contra Cristo. O que só pode fazer Deus (e que fará ao final, segundo acreditamos, conforme está prometido), o mundo moderno intenta febrilmente construi-lo sem Deus; apostatando de Cristo, abominando do antigo esboço de unidade que se chamou Cristandade e oprimindo ferreamente inclusive a natureza humana, com a supressão pretendida da família e das pátrias. Mas nós, defenderemos até o final essa parcelas naturais da humanidade, esses núcleos originários; com a consigna não de vencer senão de não ser vencidos. Quer dizer, sabendo que se somos vencidos nesta luta, esse é o maior triunfo; porque se o mundo se acaba, então Cristo disse a verdade. E então o acabamento é garantia de ressurreição
(Visión religiosa de la crisis actual. Cristo, ¿vuelve o no vuelve?, pág. 289-290).
4 comentários:
Tocante e de fé profunda!
Profundo e cheio de fé.
um texto bem profundo...
prazeroso de ler.
Impressionante. O teor profético do texto causa espanto, ao mesmo tempo que consola e nos da força para seguir em frente!
VCR!
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