Padre Júlio Meinvielle
Immortale Dei: "Houve um tempo em que a filosofia do evangelho governava os Estados. Então aquela energia própria da sabedoria cristã, aquela sua divina virtude, havia compenetrado as leis, as instituições, os costumes dos povos, infiltrando-se em todas as classes e relações da sociedade; a religião fundada por Jesus Cristo, colocada firmemente sobre o grau de honra e de altura que lhe corresponde, florescia em todas partes secundada pelo agrado e adesão dos príncipes e pela tutelar e legítima deferência dos magistrados; o sacerdócio e o império, concordes entre si, departiam com toda felicidade, em admirável consórcio de vontades e interesses. Organizada deste modo a sociedade civil, produziu bens superiores a toda esperança".
Sobre a Reforma Protestante:
Julio Meinviele: "Mas as danosas e deploráveis novidades promovidas no século XVI, havendo primeiramente transtornado as coisas da religião cristã, por natural conseqüência vieram a transtornar a filosofia e, por esta, toda a ordem da sociedade civil".
Julio Meinviele: "as nações, livres de toda forma superior, tomam posições, umas frente as outras. Aparecem, desta sorte, pela primeira vez, os nacionalismos exagerados. E os monarcas postos a frente dos povos rechaçam todo poder superior e se erigem em divindades. A razão se torna independente da teologia, a ciência da fé, a política da moral, o natural do sobrenatural.
Destituído então, dos auxílios sobrenaturais, a ordem natural caminha até sua própria ruína. E assim vemos, nos séculos XVII e XVIII, o caminhar apressurado até a ruína da civilização. A razão termina em suicídio com Kant, e é suplantada pela ciência, que é uma soma das comprovações físico-matemáticas; o bem comum, que centrava a política e a economia, é substituído pela liberdade; os monarcas são levados ao cadafalso pela multidão soberana. A civilização – assim sem nenhum aditamento -, acaba com a Revolução Francesa. Com ela começa a civilização moderna, a qual, no quem tem de próprio e peculiar, é a barbárie, armada do poder da força industrial.
A revolução francesa marca então a fronteira definitiva de dois modos de vida essencialmente diversos que cumprem na civilização cristã. Com ela se opera no homem uma alteração de sua mesma condição de racional, coisa que não havia a trabalhar-se formalmente no século XVI. Até ela, os princípios diretores da vida haviam sido humanos, agora começam a ser infra humanos ou animais; até então, racionais, agora puramente sentimentais; até então, qualitativos, agora quantitativos; até então atraídos pela idéia de que o bem une, agora pela liberdade, que desvincula e desune. Daqui o liberalismo, o individualismo, o anarquismo e romaticismo deste terceiro momento histórico.
A Revolução Francesa é então, o ponto de partida de um caminho que há de terminar inexoravelmente na revolução comunista, como está, por sua vez, é a etapa imediatamente anterior a apostasia universal ou reinado do anticristo, reinado que não consiste nem se instaura em uma revolução, senão que é a lógica culminação das revoluções anteriores.
O Estado infra humano de civilização, inaugurado pela Revolução Francesa, se vai caracterizar em substância por um cruzar o homem a linha da inteligência que lhe distingue e separa da matéria e em um entrar já resolutamente na órbita de atração da matéria mesma. Por isto a nova idade vai estar regida pelo materialismo ou pelo econômico. Mas como em um ciclo econômico ou materialista há dois momentos perfeitamente caracterizados, um de matéria viva, outro da matéria inorgânica, um da economia dirigente, ou burguesa capitalista, e outro da economia dirigida ou proletária, nesta nova civilização, a moderna, que é uma civilização infra civilizada, podemos distinguir dois períodos: um que é o liberalismo propriamente dito, e outro o comunismo; uma de dominação dos grupos burgueses oligarquicos, e o outro de dominação das massas proletárias, ou verdadeiramente democrático.
Destes dois momentos, o burguês está esgotado já e definitivamente concluído. Chega então a vez o quarto momento, o democrático ou comunista. O clero predominou na Idade Média; a nobreza ou aristocracia nos séculos XVII e XVIII; os ricos ou burgueses no século XIX, e hoje há de dominar a multidão proletária ou democrática".
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