quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Palavras proféticas de Ettiene Gilson

A excelente revista on line Permanência, recentemente transcreveu em seu site na internet (www.permanencia.org.br) um trecho de um texto do inolvidável filósofo tomista Etienne Gilson, que merece destaque por sua atualidade sobretudo no contexto atual de nossa vida política, que nos impele a refletir acerca do ambiente (i/a) moral da hora presente que fomenta que pululem no congresso um sem número de projetos de leis promiscuas, frontalmente opostas a lei e ao direito natural, que será o tema de artigo de nossa lavra a ser postado neste blog futuramente. Pelo conteúdo por assim dizer profético das sábias palavras de Gilson, entendemos necessário que novamente o fossem transcritas por estar em plena consonância com nosso pensamento. Fernando Rodrigues Batista



Etienne Gilson

"Resulta daí que a situação presente dos cristãos se assemelha mais e mais à dos primeiros cristãos que lutaram por sua fé em um Império Romano cujas forças se conjuravam todas contra eles. Não estamos somente situados numa sociedade cuja alma não é mais cristã, mas cuja forma mesma não o é mais. Nem nossa moral pública se acorda com a que o Estado tolera, nem nossa moral privada com a que se pratica em torno de nós (...) Não vivemos como os outros, porque de um país onde a pornografia faz viver tantos jornais, onde o nudismo se extravasa dos teatros para as bancas das ruas, onde os crimes mais revoltantes são cotidianamente absolvidos pelos júris dos cidadãos honestos que os julgam em sua alma e consciência, onde todas as formas de exploração industrial, comercial, bancária se expõem à luz do dia – poder-se-á dizer tudo que se queira, salvo que ele representa, mesmo aproximadamente, a imagem de uma sociedade cristã. Mas o mais grave é que não vivendo como os outros, nós não pensamos mais como eles. Isto é o mais grave, porque de todas as rupturas é a mais profunda. A desordem moral não é privilégio de nossa época; ela existiu sempre, mesmo na Idade Média; mas então ela era considerada como uma desordem, enquanto em nossos dias pretende-se instalar como a ordem mesma. Não é o fato de sua ocorrência o que nos deve espantar; é o fato de que progressivamente ela se faz legalizar. Por outro lado, nada se lhe opõe; desde que o Estado não reconhece nenhuma autoridade espiritual acima dele, não tem outro recurso senão o de laissez-faire ou de decretar uma moral em seu proveito."

A Moeda, o Homem e Deus

Henrique Barrilaro Ruas*




«Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.»





Quando Cristo deu aos fariseus a célebre resposta, tinha diante dos olhos a Moeda e o Homem. A moeda, com a imagem de César. O Homem, com a imagem de Deus. A moeda, sinal e força da Economia, símbolo de toda a ordem material em que César domina. Cunhada por César, a moeda é de César. Baseada na moeda, a Economia subordina-se à Política. À esfera política, em que César campeia, foi entregue por Cristo a esfera económica, a que a imagem de César preside. O mundo das coisas materiais, que dão de comer aos homens, é um mundo de coisas sem espírito, em que nenhum César vive. A esse mundo, cujo valor reside no que significa dos homens, e cuja máxima grandeza lhe é dada pela imagem de César, tem de estar sobranceiro o mundo dos homens reais, em que a vida circula e cresce, e em que a imagem de César se retira diante do César pessoal.
A máxima evangélica, profunda como um abismo, entrega a Economia à guarda e tutela da Política. E entrega a Política a Deus.
O plano político é o plano entre todos humano, aquele que o homem melhor domina, melhor abrange, mais facilmente assalta, porque pode, ao considerá-lo objectivo, desdobrá-lo à altura dos seus olhos. Tudo o que é político é humano (nem tudo o que é económico; nem tudo o que é religioso).
No Homem está impressa a imagem de Deus. No plano político, a sombra do plano religioso.
A esse mundo das coisas políticas, cujo valor reside no que representa de divino, cuja máxima grandeza deriva da pessoa de César, deve presidir o mundo das realidades divinas, a esfera do Absoluto: Dai a Deus o que é de Deus.
E dando assim a Deus o que a Deus pertence, incluso se lhe dá o que pertence a César. O plano económico, através do político, integra-se no plano religioso.
E, com efeito, não é verdade que tudo pertence a Deus?
De um ponto de vista que por absurdo se diria unilateralmente divino, parece que a fórmula evangélica haveria de ter sido apenas: «Dai a Deus o que é de Deus». Porque, no fundo, tudo se deve a Deus.
Mas a complexidade da máxima cristã não pode considerar-se ocasional, pedida apenas pelo momento. Corresponde a uma atitude original do Cristianismo: a distinção das esferas, a integração das esferas pelo princípio hierárquico.
Mostra a História da Antiguidade que a tendência do homem é para deduzir da Religião para a Política (embora, a uma observação superficial, possa parecer o contrário). Quando Cristo vem ao mundo, é tremenda a crise do mundo. As velhas religiões definham, enquanto o Império avança. A Política, filha da Religião, sugava-lhe as últimas forças, transformava-a numa sombra ondulante. À medida que os quadros sociais se alargavam, rompiam-se os quadros religiosos. À medida que estes se rompiam, perdiam-se os homens, soltos e vagos, humilhados e impotentes, no vasto Império, em que os ventos os arrastavam como a células desprendidas de organismos já mortos. A sociedade familiar dissolvia-se. Assente sobre ruínas, só o Império campeava. As velhas religiões particulares - domésticas e civis -recuavam na sombra. E, através do idealismo dos filósofos, ou do culto de Roma, ou dos mistérios órficos, era para a religião universal que se tendia, embora lentamente, imprecisamente. Era um bem? Era um mal? Considerada em si mesma, essa tendência era formalmente adequada à unicidade divina; mas, sem inspiração do Alto, era falsa na essência e prometia naturalmente ao Erro a perenidade. Era a crise das crises.
Foi então que Deus declarou chegada a Plenitude dos tempos. E foi sobre as cinzas das velhas religiões particulares e sobre a promessa da nova e falsa religião universal, que Cristo proferiu a sentença determinante: A César o que é de César; a Deus, o que é de Deus.
A sentença não vinha isolada. Era uma regra de acção, uma regra de vida, dentro dum mundo doutrinário fora do qual se perderia, vazia de sentido, ou se adulteraria, incompreendida. Essa regra é especificamente cristã - e isto, não só historicamente: também, e sobretudo, filosoficamente.
É preciso compreender que representa o Cristianismo no crepúsculo da Idade Antiga, para medir o alcance daquela fórmula. Fenomenicamente, à superfície das coisas, o Cristianismo entrou no plano das religiões como o termo da tendência universalista. Ora essa tendência esfarrapava a veste harmoniosa da Sociedade antiga, diluindo as crenças que alicerçavam a Família e a Cidade, deixando o indivíduo isolado, nu, em face da omnipotência da República - única, absoluta, divina. Tudo o que afeiçoara os homens, os conformara, os defendera, os vinculara, tudo era minado pela tendência à religião universal. Por um lado - o seu lado cósmico - ela acentuava a pequenês do Homem dentro do Universo, ao passo que por outro - o seu lado político - acentuava a pequenês do Homem dentro do Império. A Sociedade, que fora à medida do Homem, era agora à medida de uma Ideia.
Fenomenicamente, o Cristianismo parece o cúmulo dessa Ideia…
Como a realidade é diferente! O Deus revelado por Cristo é, certamente, sim, o Deus Único, válido para todos os lugares e todos os tempos, ao invés dos deuses domésticos e civis; é certamente o Deus do Universo e o Deus do Homem.
Mas não é um Deus cósmico, nem um Deus político, porque é transcendente ao Cosmos e à Polis, mesmo quando o Cosmos é infinito e a Polis é imperial. O Deus revelado não é o limite da série das divindades pagãs. Alfa e Ómega do Mundo e da Humanidade, o Deus revelado ilude a tendência da série; não é o termo N de nenhuma progressão; nada O define, nada O limita, nada O exprime. É Ele. A série pagã teria terminado no Imperador universal, ou na Ideia do Bem. A Revelação não veio completar a série: veio, muito simplesmente, aniquilá-la.
Sobre as ruínas das velhas religiões e a promessa da falsa religião universal, o Cristianismo tomou o Homem nas suas mãos, fê-lo subir ao alto das ruínas e esquecer a promessa do Erro esplêndido - e mostrou-lhe o Pai. Mais poderoso que César, mais puro que a Ideia, o Deus Revelado chamou cada homem pelo seu nome e ensinou-lhe o sentido da vida.
Nesse momento único, desenhou-se diante do Homem uma formidável encruzilhada. Corrido o véu do seu destino eterno, pairava a interrogação sobre o seu destino temporal. Essa dúvida, de que, hoje podemos falar em abstracto, não se formularia, não se poderia formular, se Cristo não tivesse falado.
Psicologicamente de acordo com as tendências da época, a Fé no Deus único e transcendente tê-Ias-ia reforçado, estilhaçando de vez os velhos quadros sociais em que os homens se agrupavam; deixando cada um, como filho de Deus, fazer sozinho e por seu pé a demanda do Reino de Deus, forte na sua consciência pessoal, para mais socorrida pela graça. Olhando as coisas como elas eram, olhando também as tendências ainda hoje manifestas, não parece lícito duvidar de que teria sido esse o caminho seguido: a anarquia social como prelúdio ao Reino de Deus.
Mas Cristo não veio dizer que sim às tendências do Seu tempo. A Família, que vivera da Religião e pela Religião morria, recebeu a sagração do Ungido: reviveria pela Religião. O grande Sacramento seria o alicerce da Sociedade. E não só o alicerce, mas a Sua viva imagem, a sua célula, em que a autoridade e a liberdade harmonicamente se combinariam.
E, quando parecia natural que César, deus desmentido, houvesse de rolar por terra; quando parecia lógico que, na série pagã, tornada estéril, com o carácter falsamente divino caísse o carácter político - o valor de Autoridade -, ergueu-se a voz de Cristo: «Dai a César o que é de César».
Em vez de abrir as portas à anarquia social, Jesus proclama a santidade da Família, torna-a participante da vida divina, e defende o facto-político, que a Sua doutrina parecia ameaçar.
É no entanto para reflectir que, ao passo que a Família é consagrada, não o é o Estado. Sobre o pilar inamovível da Família, Cristo deixa flutuar o Estado, não considera nele nenhuma forma particular, nem mesmo uma estrutura natural como embrião.
Com todas as cautelas, talvez se possa ver nessa espécie de abstenção um sinal de que Jesus Cristo entendia que a sociedade civil se devia moldar sobre a sociedade familiar - o que daria razão ao Paternalismo ou Patriarcalismo.
Mal esboçando esta hipótese, o que com mais nitidez ressalta é, por um lado, que o Cristianismo (como tal) não pretendeu organizar a Cidade; por outro, que, como já vimos, reconheceu a Cidade. E é para notar que a reconheceu quando a sua forma estava mais longe da Anarquia e mais facilmente figurava de coisa divina. Mas não nos iludamos, porque é entre dois polos fixos que Cristo deixa girar o eixo do Estado. Entre a ,Família e Deus, fica o reino de César. E a Família é o embrião, o gérmen, da futura Humanidade divinizada. Gérmen humilde ainda, simples esboço do que há-de ser o Reino de Deus, na aurora dos Tempos Novos, quando Deus lança ao Homem a chamada, a vocação...
Não é a grande Sociedade, a sociedade civil, então imperial, que o Cristianismo vem organizar, mas a pequena sociedade, a familiar. Porque o mundo não estava maduro para ser ordenado pelos princípios cristãos; para ser, ele próprio, coisa sagrada, divinizada. Se o estivesse, não seria o momento da Revelação, da Igreja e da Família -. mas o momento da Vinda definitiva, o momento em que a Humanidade passaria deste mundo ao Reino de Deus.
O Cristianismo, demasiado perfeito para a sociedade terrena, necessariamente inadequado à organização do Estado, parou no limiar do Estado. Não pretendeu substituir-se a César; fez a distinção das esferas: César, e o que é de César; Deus, e o que é de Deus.
No crepúsculo da Idade Antiga, que deduzia a Política da Religião, Cristo vem ensinar que não é do Cristianismo que se deve partir para o campo da Política.
E no entanto, se a Política é o plano entre todos humano; se o Homem é a imagem de Deus - o que a Deus se deve entregar é bem o Homem com a Sua imagem, é bem a Política, é bem o reino de César. Porque César pertence a Deus.
Ao ser entregue a César, a moeda não pode ter apagada a imagem de César. Entregue a Deus, César não pode ter apagada a imagem de Deus.
Indutivamente, a Economia ordena-se à Política, e esta à Religião.
Pelo princípio hierárquico, o Cristianismo soube, depois de as distinguir, integrar as esferas : a económica, na política; a política, na religiosa.
«Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.»



(In A Moeda, o Homem e Deus, 1957)

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*Henrique José Barrilaro Fernandes Ruas
(Figueira da Foz, 2 de Março de 1921- Parede, 14 de Julho de 2003)
Professor, historiador, ensaísta e Político. Formou-se em História e Filosofia pela Universidade de Coimbra (1945) tendo frequentado em Paris, com bolsa do Estado Francês (1947-49), a École des Chartes e o Institut Catholique. Foi Presidente do Centro Académico de Democracia Cristã (Coimbra, 1942-43) e sócio-fundador do Centro Nacional de Cultura (Lisboa, 1945) de que foi director em 1955.

"Se a terra falasse, havia de contar, por entre abundantes lástimas, muitos sinais do amor dos homens por ela... Terra humanizada é sempre mais que terra trabalhada. Se o homem só a quisesse como nascente de ouro, talvez já ela se tivesse extinguido. Mas, se a terra dá o pão à gente, também nós lhe damos pão. E o pão mais rico que lhe damos não é tanto a semente que a fecunda; é a alma que lhe confiamos."
(In H. B. Ruas, Cultura Portuguesa, n.º 2, Janeiro-Fevereiro de 1982)

«Porque há lugares, meu Deus, que têm de ser mantidos. / E é preciso que tudo isto continue. / Quando já não for como agora. / Mas melhor. / É preciso que a vida do campo continue. / E a vinha e o trigo e a ceifa e a vindima. [...] É preciso que a cristandade continue. / A Igreja militante. / E para isso é preciso que haja cristãos. / Sempre.»
(In Charles Péguy, O Pórtico do Mistério da Segunda Virtude, Trad. Henrique Barrilaro Ruas, Lisboa, Grifo, 1998, p. 24)

Em nome de Gil Vicente - Aos Pastores de Além-Tejo [1]


Hipólito Raposo*


Faz agora quatro séculos, muito mais anos do que dias tem um ano, morreu aqui em Évora, segundo se cuida, e enterrado seria no convento de S. Francisco, um grande português, chamado Gil Vicente, poeta dos mistérios do Céu, dos terrores do Inferno, da alegria e beleza da Terra, o melhor par de Luís de Camões que foi o maior cantor do Mar.
Esse Gil Vicente teve artes de ser autor e representador das primeiras peças de teatro português, nas quais, fora das igrejas, se começaram a mostrar as verdades de Deus, da Virgem e dos Santos, os pecados e as virtudes do nosso Povo, amores e namoros com outras diversas invenções que nesse tempo a todos faziam rir, ou conselhos, práticas e exemplos que ainda hoje nos dão que pensar.
Homem de coragem, atrevido, sem trave na língua e de bofes lavados, com todo o desembaraço ele fazia dizer às figuras no teatro aquilo que não podia declarar por boca ou por cartas, nem dar aos jornais, porque ainda não os havia.
Nas suas comédias em que aparecem a representar pessoas de quase toda a classe de família, ricos-avarentos e pobres de pedir, frades, fidalgos, lavradores, ratinhos, judeus, almocreves, além de anjos, santos e demónios, ele deu entrada e grandes honras às figuras de pastores da serra, do campo e da borda de água, fazendo até da Serra da Estrela uma pastora e falando em nome da Fama Portuguesa, urna rapariga da Beira, guardadora de patas.
E feito em vaqueiro, ele mesmo começou o teatro, vestido de samarras, com o sarrão, o tarro, a cabaça, o cajado, entrando no Palácio de Lisboa e dentro da própria sala em que a Rainha pouco antes tivera um filho e onde agora ia receber em companhia da Família Real, os parabéns e os presentes dos pastores, pobres, mas de boa-vontade: queijo, queijadas, leite, ovos e mel.
Deste modo que vos digo, o teatro português nasceu em casa de EI-Rei, e quem primeiro lá tem entrada são os pastores de gado, porque eles representavam ali todo o povo português, alegre e contente de ter nascido o herdeiro do Trono.
Esse principezinho que entrava no mundo, filho de D. Manuel, foi depois o Rei D. João III, e grandes honrarias quis ele dar a esta cidade, quando a côrte muitas vezes aqui assistia e com ela vinha Gil Vicente, até ao fim da sua vida, para ordenar e ensaiar as representações.
Ninguém ainda soube explicar este bem-querer de Gil Vicente aos pastores: talvez ele tivesse nascido e fosse criado no meio de rebanhos, lá por esses barrocos da Serra da Estrela, tão seguro se mostra a falar nas povoações e nos bons produtos dos gados da nossa montanha mais alta, como se dela fosse natural.
Mas, se por lá, não nasceu, também não há certeza, de entre aquelas que o desejariam ter por filho,
qual a terra portuguesa em que Gil Vicente mamou o primeiro leite.
Os pastores das herdades de Évora que ele bem conheceu e amiudou nas malhadas, nas ruas, nas feiras, e muitas vezes ouviu cantar nas cerimónias do Natal e da Semana Santa, esses zagais e zagalas, Gil, André, Brás, Isabel, Madanela, Catalina, ficaram a falar, vivos para sempre, nos livros de que agora se tiram variadas representações. Elas devem ser ouvidas de orelhas bem fitas, para podermos fazer ideia das falas e orações da Virgem e dos Anjos, dos gritos e roncos dos Diabos que correm a assaltar as almas, bons ditos do amor divino e humano, rixas e queixas, folias, danças do povo, bruxas e mulheres de virtude a engrolar os pacóvios, mazelas de alcoviteiras que são reses de mau pêlo, frades e padres de ruim exemplo, juizes tortos, fidalgos intrujões, enfim, fraquezas e misérias que sempre se viram no mundo, desde que Adão pecou.
A toda essa catrefa de gente ele quis dar o pago do castigo, ora chamando os diabos para ralhar com as almas na ocasião de darem contas a Deus, entre o Anjo da Guarda e o Demónio da perdição, ora despachando uns para o inferno, outros para o purgatório, de onde se mostra que já naquele tempo, quem quisesse comprar virtude, mal acharia quem lha vendesse.
Logo direitos para o céu, no teatro de Gil Vicente, só foram um pobre tonto, um menino inocente e os Cavaleiros da Ordem de Cristo que por Deus e pelo Rei batalhavam e morriam nas partes de África.
E se voltasse a este mundo a fazer mais representações, ele já teria de apontar o caminho do inferno aos próprios cavaleiros de Cristo que muitos deles, embora baptizados, já nem em Cristo querem crer...
Em tudo o que escreveu, vêem-se as figuras tão bem tiradas de seu natural, como se esse Gil Vicente antigo, por aí andasse ainda agora, são e vivo, por entre os alavões, a arremedar as ordens dos maiorais, as cantigas dos manteeiros em cima das cangalhas, com as correntes a bater nos cântaros de leite, por longas tardes e longas searas, a caminho dos montes.
Da boa opinião que ele tinha dos pastores, basta lembrar que, chegando à outra vida um deles e uma pastorinha quási inocente de todo o mal, o anjo da barca da glória manda-os padecer algum tempo no purgatório, até soar a hora de irem ambos para o céu. E quando o anjo repreende o pastor de não rezar, de não saber bem a doutrina, o rapaz respondeu-lhe com este mandamento que vós podeis ter de memória para o cantar:


Assaz avonda ao pastor
Crer em Deus e não furtar
E fazer bem seu lavor
E dar graças ao Senhor
E fugir de não pecar


Quem souber ler os livros deste Poeta, achará neles também falas de negros escravos que muitos havia cá em Évora, o papear de ciganos em trocas e baldrocas, ou de ciganas a ler as sinas, como ainda hoje acontece pela feira do S. João, no adro da Sé ou nas barracas armadas no Rossio de S. Brás.
Talvez alguns de vós, mais velhos, ainda ouvísseis contar a vossos avós ou a qualquer homem antigo o gosto que ficou aos pastores destes campos de Évora-Cidade, quando, há-de haver uns cinquenta anos, faziam representações uns com outros, pelas herdades que ficam para a banda de Arraiolos, nos montes da Sempre Noiva, da Tourega ou do Vale de Ricomem. Eram lembranças dos tempos de Gil Vicente, de quando esta cidade em festas reais, em riqueza nas casas e nas igrejas, foi a primeira de todas, fora de Lisboa; e em saber de letras, antigamente, só Coimbra valeu mais do que ela.
Hoje, capital do trigo, terreiro das feiras de gado, Évora vive de ser grande seara e grande malhada, e até parece esquecida dos altos estudos que nela houve, antes e depois de ter universidade.
Nem tudo o que Gil Vicente escreveu daria agora gosto em tornar a ver-se representado; mas pela leitura que vos disse, qualquer pode ter presente aos olhos todo o vivo que anda na terra, voa nas nuvens ou rasteja pelos brejos e junqueiras, e há-de parecer-lhe ouvir vozes e rumores das grandes folhas alqueivadas ou o remoinho alegre e verde das searas que bem afiguram a grandura e o desassossego das ondas do mar, para os que nunca puderem ter ido a Sines ou a Setúbal para o ver.
Os borregos, as vacas, os cães, os burros, as ovelhas e carneiros, as cabras e cabritos, os lobos, as raposas, as centopeias, os caracóis, as cegonhas, os milhanos, as rolas, as codornizes, as andorinhas, os galos, as abelhas as borboletas, as próprias moscas; o sol, o vento, a chuva, o pedrisco, a tempestade; os vales, as serras, prados, trigais, ribeiros e fontes; as flores e as ervas de cheiro - toda a lindeza das novidades e a galantaria da criação ali ficaram escritas e lembradas para sempre, enquanto houver gente portuguesa que saiba ler e gostar de ouvir louvores a Deus nos dias claros e limpos em que a cotovia se dobra e revira no ar, como novelo de cantigas.
Vós, pastores, que Gil Vicente considerava os homens de melhor moral e mais felizes naquele tempo, ainda hoje gozais urna sorte que os homens da cidade já não conhecem: a paz do campo.
Se com os vossos avós falavam nesse tempo os anjos, quando representados no teatro, ou, por caso de milagre vivo, o Criador Divino fazia descer à terra os seus mandados, assim também, ainda há vinte anos, segundo tem fé a maioria dos Portugueses,
falou a Senhora do Rosário a três pastorinhos na serra de Fátima, lá para as bandas de Tomar, distinguindo com tão grande graça as pessoas do vosso oficio.
Vós sois os últimos senhores para gozar a terra, ainda quando, zagais de alheio gado, vosso amo servis a contento. Donos ou servos as reses vos conhecem e vós as diferençais também, uma por uma; os cães vos seguem, e defendem os bardos dos lobos; o vosso cajado é vara de governo e de justiça, cada qual de vós é rei do seu rebanho de ovelhas, do seu fato de cabras, da sua vara de porcos.
Se alguns donos de terras as abandonam por amor das paredes e das luzes das cidades, ruim cabeça têm eles ou mau feitiço lhes deram, para não quererem gozar estes jardins que a mão de Deus plantou e a fartura deste banquete real, o pão, a carne, o leite, o vinho, os legumes e a fruta, dote do céu a todos prometido em galardão do trabalho.
O velho Gil Vicente não fez só aparecer e falar os pastores; às vezes dá-lhes urna grande dignidade pelas comparações que apresenta, chamando à Virgem Maria formosa zagala, pastora dos anjos, e pastor de pastores a um grande rei português, curral ao reino ou ao seu lar desfeito pela morte.
Assim diz a conversa de um auto pastoril, em que Gil pergunta a Brás:


Conheceste João Dom–ado
Que era pastor de pastores?
Eu o vi entre estas flores
Com grande fato de gado,
Com seu cajado real,
Repastando na frescura
Com favor da ventura:
Ó zagal,
Que é feito do seu curral?

Em falar de pastor, aqui tendes o louvor e a lembrança de Gil Vicente à pessoa e à pouca sorte de D. João II que muitas vezes viveu em Évora e que, sendo bem mais amigo do Povo do que da Nobreza, foi mestre na arte de reinar.
A esses pastores de algum dia, e a vós, pastores de hoje, não vos presta ter inveja de quantos por aí vos parecem mais felizes, porque, mesmo que o sejam, se eles não se cuidarem venturosos, tanto monta como serem desgraçados, sendo certo que a felicidade verdadeira todos a buscam, mas não a cobre neste mundo a rosa do sol.
Não queirais igualar a vossa sorte com a dos operários de Lisboa, que, se chegam a ter grandes jornas, as mais das vezes as gastam em tentações e pouco lhes fica para comprar pão de má mistura. Homens sempre avinagrados, a praguejar a sorte, querendo em tudo mandar sem obediência a ninguém, nem a Deus, às leis do mundo ou a quem tem de governar por todos. Comparados a eles, contentes corri a vossa soldada certa, com o pegulhal gordo e parelho, por essas herdades em que o céu poisa em redondo nas distâncias, no meio de pastarias de boa ervagern, com o chão coberto de pampilhos, de poejos, de margaças, de soagens, de ourégãos, vós sois os últimos portugueses que verdadeiramente ainda têm o gosto e a alegria de ser livres.
Da ruindade dos homens que matam e incendeiam, da malícia dos velhacos que vos roubam o dinheiro ou falseiam os pesos e medidas das vossas compras, muitas vezes, creio eu, vos há-de consolar a fieldade dos cães, a mansidão que cresce e se espalha dos olhos leais das ovelhas; e por esta comparação já tereis visto que é melhor viver com os animais do que com alguns dos nossos semelhantes, em quem a maldade, sempre nova, nunca está satisfeita.
Longe dos campos, nas praças, nas tabernas, nas fábricas, nos botequins, os homens do nosso tempo perderam o costume de erguer os olhos e dobrar os joelhos diante das maravilhas do céu: para eles quase não há sol, não vêem a lua, nem as procissões de estrelas em noites claras. Molestam-se com a chuva, como se fosse um mal, esquecendo-se de que, sem ela, não havia ribeiros, nem fontes, não rebentavam as árvores, não nasciam as ervas e as searas, não abriam as flores e tudo morria de sede e queimado pelo sol.
Sem saber ler, muitos de vós têm mais sabedoria do que os que só lêem maus papéis, pois todos conheceis o que importa à vossa vida, os caminhos e seus perigos, as mezinhas para as feridas dos animais e para as vossas, a boa qualidade do gado, o zelo de cuidar da mulher e dos filhos, o dever de trabalhar com honra no vosso mister, certos de que, associados em destino à lavoura, servis as grandes obras de dar de comer a quem tem fome e de vestir os nus.
Atrás de vós ninguém corre, não correis vós atrás de ninguém: de manhã à noite, passam carretas e automóveis na estrada ou aeroplanos no céu, os vossos passos são os mesmos, porque, louvores a Deus, ainda não se inventou máquina de guardar gado, para dispensar os cuidados dos vossos olhos pelas pastagens.
Ainda quando os donos fogem de viver na herdade, não podeis vós abandonar a terra, as reses, a borregagern, aceitando de boamente servir, pelos haveres e fazenda de uns, o vosso interesse e o de todos, e contentando-vos para encher as solidões da charneca com as vossas cantigas, os pífaros e os harmónios, música às vezes alegre como os tentilhões, se há sol claro, outras vezes triste, quando tudo esmorece nos dias pardos, em que o astro está búzio.
No terramoto que anda a destruir o mundo, vós sois aqueles que não negam obediência à voz do Criador, que contais e seguis, dia por dia, as estações do ano, que respeitais as leis da natureza, erguendo o vosso cajado acima da cabeça, sobre cães e gados, com tanto poder e glória de mandar, que nem o cetro real!
Por estas razões e dignidades, Gil Vicente, tão amigo de Évora e vosso amigo, escolheu pastores para falarem com os anjos das coisas divinais, e tudo bem considerou, quando meteu pastores e pastoras em perto de vinte peças de teatro, das quarenta e quatro que dele ficaram, desde a Visitação do vaqueiro até à Floresta de Enganos, última obra que fez e em sua vida se representou nesta cidade.
E também pela vossa rectidão e honra de trabalhadores, pela vossa fé de portugueses, de soldados, de filhos, pais e avós de soldados e marinheiros, por serdes a gente com menos defeitos e mais virtudes, bem merecestes que o Governo se lembrasse especialmente de vós para mandar também a Évora uma representação de teatro, dando animação e alegria à vossa terra e relembrando com justiça a glória de um Poeta que tanto amou e tratou com os pastores em tempos antigos.
Aqui vos diz estas palavras um homem que com a gente do vosso ofício, com os cavadores e pescadores, tem querido aprender a falar a nossa língua, melhor do que lha ensinaram nas escolas, e que, por única paga de aqui ter vindo, desejaria levar o contentamento de ser por vós entendido e aprovado. Ele dá-vos de todo o coração o seu louvor, por ainda serdes quem sois, e quer lembrar-vos que o Povo Português, nos seus tempos felizes, era unido, todos por um e um por todos, convencidos de que, na gente como nos rebanhos, ninguém pode igualar o que Deus desigualou, e que os homens se medem pela mesma dignidade, quando façam bem o seu mister, desde o carvoeiro ao juiz da comarca. Todas as classes de trabalho se igualam em merecimento, pela honra e crédito de quem o faz.
Dando-vos estas boas-tardes, ó Pastores de Alentejo, meus amigos, saúdo em vós, nas mulheres e filhos que tendes, nos pais que mantendes, as mais vivas e profundas raízes do sangue português, de quem nasceram as flores humanas dos guerreiros, dos mártires e santos da nossa história.
E recordando para melhor exemplo de hoje o Portugal glorioso de Gil Vicente e D. João III, preparemos todos com amor as almas para o renovo de amanhã, ensinando os filhos a amar e a defender da raiva dos homens-lobos, a terra da Pátria, esta grande e formosa herdade de todos os Portugueses!

18 de Maio de 1937.
(In Hipólito Raposo, Pátria Morena, Porto, 1937)


[1] Fala a um suposto auditório de pastores, numa herdade de Évora.


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José Hipólito Vaz Raposo, 1855-1953.
Advogado, escritor, historiador e político, natural de S. Vicente da Beira, foi um dos mais destacados dirigentes do Integralismo Lusitano.
Começou a sua carreira profissional como professor no Liceu Passos Manuel e no Conservatório de Lisboa.
Em 1919, era director do jornal A Monarquia quando desempenhou destacado papel no pronunciamento monárquico de Monsanto, vindo a ser demitido de todos os cargos públicos e a cumprir
pena de prisão em S. Julião da Barra (1920).
Exerceu advocacia em Angola (1922-23).
Reintegrado como professor no Conservatório (1926), defendeu a recusa de colaboração dos monárquicos à União Nacional (Partido Único) e ao regime do "Estado Novo", acabando por ser de novo demitido de todos os cargos públicos, e deportado para os Açores, na sequência da virulenta denuncia da "Salazarquia" que fez no livro
Amar e Servir (1940).
Subscreveu a reactualização doutrinária integralista «Portugal restaurado pela Monarquia» (1950).
Da sua produção como escritor integralista, merece destaque o ensaio que escreveu acerca da distinta matriz doutrinária do Integralismo Lusitano e do nacionalismo francês da Action française (Dois nacionalismos, 1925), bem como a conferência A Reconquista das Liberdades (1930), onde sintetizou o programa político do Integralismo Lusitano e procurou desfazer a miragem de messianismo salazarista que se anunciava.
Outras obras: Sentido do Humanismo, 1914; Aula Régia, 1936; Pátria Morena, 1937; Direito e Doutores na Sucessão Filipina, 1938; Mulheres na Conquista e Navegação, 1938; D. Luísa de Gusmão, 1947; Folhas do Meu Cadastro, 1º Volume (1911-1925), 1940, Idem, 2º Volume (1926-1952), 1986, etc..

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Ator mexicano se converte em Hollywood e denuncia "holocausto" do aborto



MÉXICO D.F., 01 May. 07 (
ACI).O ator Eduardo Verástegui, atualmente um dos mexicanos com maior exito em Hollywood, se converteu em uma das vozes mais fortes contra a despenalização do aborto no México DF. Se reencontrou com a fé de seus pais no lugar menos esperado do planeta, e não teme o rechaço do público ao denunciar o holocausto do aborto.
Verástegui tem revelado suas convicções pró-vida em vários meios de comunicação mexicanos e criou um organização de ajuda na Califórnia para assistir pessoas necessitadas, entre elas a mulheres que buscam abortar. Sustenta que a legalização do aborto no México não é digna do espírito do povo mexicano.
Em uma entrevista concedida a revista Hola, confessou sentir-se "muito frustrado pelo que está passando no México hoje em dia. Creio que há uma manipulação tremenda na informação que se está dando ao povo mexicano. As leies não podem basear-se em uma mentira, porque o aborto é um crime. É um fato, é algo cientificamente demonstrado".
Para o ator e produtor, o aborto "é um holocausto terrível no que estão morrendo 'legalmente' milhões de inocentes... Algo tão grave, tão profundo, que vai inclusive além de qualquer filosofia ou religião".
Não há pretextos
Verástegui sustenta que não há justifitiva alguma para o aborto. "As mulheres que fação o que queiram com seu corpo... mas e a criança?. Que ocorre com o corpo do bebê, que não tem voz e não pode defenderse? Há cem anos poderia haver dúvidas, só a fé podia fazer pensar que havia vida desde o momento da concepção. Mas hoje em dia é algo cientificamente demonstrado, não há dúvidas".
Desde sua própia experiência, considera que "a maioria das mulheres que chegam até este ponto não querem faze-lo. É algo totalmente antinatural. Tenho visitado algumas clínicas e quando converso com as mulhers, a maioria diz que foram incentivadas por seu parceiros, quase nenhuma querem faze-lo, mas sentem medo, estão assustadas, se sentem sozinhas e sem recursos. Há que pensar em ajuda-las e nada mais. Há que ajuda-las a verem outras opções".
O ator deplora justificar o aborto em casos de malformações congênitas. "Se começarmos a pensar assim, em um momento voltaremos ao regime de Hitler. Te mato porque não estás o suficientemente são. Que é isso? O valor do ser humano, da vida, não está em sejas totalmente perfeito, ou deficiente mental e coxo. Não falamos de uma raça sã, falamos da dignidade do ser humano, da vida. Esta é a verdadeira questão. É uma manipualção para discutir o que por princípio é indiscutível".
Tampoco acredita que o aborto resolva o drama de uma mulher violentada. "Houve um erro muito grave por parte de alguém. Mas para sanar um erro não se pode cometer outro erro. Não se pode sofrer algo mal e pagar com algo pior. Se ocorre algo mal e se lhe soma outra coisa má, o resultado não vai ser nunca a paz e a alegria, vai ser algo pior ainda", assegura.
O atos não tem reparos para chamar "carniceiro" ao médico que pratica abortos. "Porque ele sim estudou, foi a escola, sabe oq ue faz, fez um juramento de defender a vida e neste caso existe vida e ele esta dando fim a ela, ele mete as tesouras e corta cabeças", explica.
Àquelas mulheres que consideram o aborto lhes pede "que não façam, que dentro de seu ventre há um bebê que morre de vontade de tocar seu rosto, rir para ela, chamar-lhe de mamãe e quere-la com toda sua alma. Que já existe uma vida que está criada para uma missão. Que não é dela, ainda que venha através dela. Que não é justo bloquear-lhe a visão e o caminho. Que recordem as sábias palavras da madre Teresa de Calcuta. Que no aborto há dois crimes, o do filho e o da consciência da mãe, e eu digo como ela, que os bebês que não querem ter, eu te juro, que os de para mim".

Sua conversão

Verástegui, de 33 anos de idade, saboreou a fama desde tenra idade e nos ultimos anos logrou um espaço em Hollywood. Seu mais recente filme "Bella" conquistou as críticas mais positivas.
O ator confessa que por muito tempo buscou a felicidade na fama e no êxito mas ao cabo de vários anos de perseguir este sonho se deu conta que estava "vazio".
"Em minha busca de saber o que havia mais além deste vazio, comecei a fazer a mim mesmo as grandes perguntas que todo mundo faz alguma vez na vida: Que faço neste universo? De onde venho? Para onde vou? Que sentido tem tudo isso?... e nesta busca comecei a frequentar outro tipo de gente, outro tipo de ambiente".
"Me dei conta que havia sido um egoísta. Que as coisas que me haviam feito avançar como um cego eram a vileza e a soberba. Vivia em uma contradição constante: queria fazer coisas boas e não as estava fazendo",
sustenta.
Assegura que fez algumas promesas, "não voltaria fazer nada que contradiga meus princípios morais e nada que mal represente minha gente, aos latinos, nem no cinema, nem na televisão nem em nenhum meio", disse Verástegui.
O ator recorda que seus pais sofreram quando deixou os estudos pela atuação e começou a ter uma vida licenciosa, cansada de não ser escutada, sua mãe se dedicou a rezar por ele.
"Creio que as orações de minha mãe tiveram muita influência em tudo isso. Sabe-se o que se diz: 'Não há nada mais poderoso que as orações de uma mãe por seu filhos'. Depois de ver meu caso, estou convencido disso. Toda a mudança que tenho experimentado em minha vida, as pessoas novas que se aproximaram de minhas crises, não me resta dúvidas que foram frutos das orações de minha mãe", revela.
Agora disse que está disposto a "vender tacos" em Tamaulipas, sua terra natal, se for para ser fiél a seus princípios. "Se o dia de amanhã vou casar-me e ter filhos, que meus filhos sejam orgulhosos de seu pai. Se vou levar uma vida integra, vou ser radical. Não me agrada o meio termo. Seja quem for que esteja por tras do melhor projeto, nãovou fazer nada que vá contra meus princípios porque se aceito, é o mesmo que vender-me e voltar a viver uma mentira", assegura.
Quando lhe preguntam que é o que mais aprendeu de seus pais, não demora em responder: "Minha fé. É um presente que Deus me deu através deles".

domingo, 5 de agosto de 2007

Pequenos textos patrioticos...

Organizando meus livros, nestes dias frios do sul do Brasil que cobrem as paisagens de gelo todas as manhãs, me deparei com um livro pequenino que há tempos não folheava. Logo no índice regozijei-me ao ver nomes de tão alta expressão com seus escritos dedicados aqueles que recém adentraram o colegial. Com desaponto verifica-se em nossos dias a "subversão do ensino", ou da "cultura", onde a educação "mecanizada" revela uma história fabricada subjetivamente pelos iluminados da ONU e da UNESCO, com o intento de se criar um nosso "senso comum" em consonância com a Nova Ordem que seus próceres almejam lograr. Tomado pela nostalgia é que resolvi transcrever três pequeninos textos que figuram nesta também pequena obra "Terra dos Pinheirais" organizada por Armando de Oliveira Souza e Iza Ramos de Oliveira.

NOSSA PÁTRIA
Rocha Pombo

Pátria – terra de nossos pais, onde viveram nossos avós, onde temos todas as recordações da nossa vida e da nossa família, onde tudo nos fala à alma – campos e mares, florestas e montanhas - e onde parece que até as estrelas e os próprios ares nos alegram mais do que outros céus!
É por isso mesmo que amamos a nossa Pátria mais que as outras pátrias.
Nela estamos confiantes como o marujo na enseada conhecida, longe do mar alto e livre das tormentas. Ela é para nós como nossa própria Mãe; pois nos abre o seu seio e nos protege, como se fosse uma continuação dos nossos lares.
A NOSSA BANDEIRA
Júlia Lopes de Almeida
Verde, da cor dos mares e das florestas que embelezam a nossa terra, desde a serra de Roraima até à barra do Chuí; azul, como o céu infinito em que abre os braços lúcidos o Cruzeiro do Sul; dourada, como o sol que alegra o espaço e fecunda os campos, a nossa bandeira retrata nas suas cores as supremas maravilhas do universo!
Filhos do sul ou filhos do norte, qual de nós não estremecerá de orgulho à sua viva glória?
Qual de nós não vibrará de entusiasmo ao senti-la aclamada pelos outros povos? Qual de nós não se comoverá vendo-a desfraldada em país estranho, ou não se sentirá capaz de maiores audácias para a defender de uma afronta e livrá-la de uma derrota?
A nossa bandeira é como um pálio confraternizador sobre a cabeça de todos os brasileiros. Unamo-nos para honrá-la na sua grandeza e para que ela seja sempre para nós, além do símbolo do da Pátria, o símbolo do Bem, da Razão, da Justiça. Só é inatingível o que é impecável, só é forte o que é puro. São as virtudes de um povo que tornam a sua bandeira respeitada; são os seus trabalhos, os seus empreendimentos, o poder de sua inteligência, a inteireza do seu caráter e a magnanimidade do seu coração que lhe dão prestígio diante de todo o mundo.
Assim, esforcemo-nos para que à sombra de nossa bandeira só nasçam e se desenrolem belas ações. Que ela pacifique gentes inimigas, quer tremule nos mastros sobre as águas inquietas, quer penda nas cidades sobre os telhados abrigadores do homem; que ela, que tem na cor a sugestão da esperança, sorria ao estranho em doce acolhimento, acenando-nos a todos para um futuro bonançoso e amplo.
Irmãos do Norte! Irmãos do sul, amigos! Unamo-nos em torno da nossa bandiera; que os elos que nos ligam não se dessoldem nunca, para que seja grande a sua glória e poderosa a sua força.

ALI ESTÁ A BANDEIRA DO BRASIL
Plínio Salgado

Como Euclides da Cunha amava o sua Pátria! Seu grande livro, chamado "Os Sertões", exalta a grandeza da nossa terra e da nossa gente. Naquelas paginas de um estilo forte, luminoso e rico, ele revela seus conhecimentos científicos e sua energia moral. Euclides descreve o caboclo do Brasil em pinceladas impressionantes, mostrando o seu valor. O sertanejo descrito por Euclides da Cunha é uma figura extraordinária: na aparência, da a impressão de um fraco, mas na hora da luta, é um verdadeiro gigante.
Euclides, em todos os momentos, mostrava ser patriota. Uma vez, estando numa comissão de limites do Brasil e a Bolívia, no dia de plantar um marco divisório, os engenheiros e oficiais de ambos os países promoveram uma pequena festa.
Era um jantar, num rancho. Pelas paredes havia bandeiras de muitos países sul-americanos, mas a do Brasil não estava lá.
Euclides olhou para as paredes cobertas de folhas e flores e notou que as cores predominantes eram o verde e o amarelo, cores da nossa Bandeira Nacional. E quando chegou a hora dos brindes, Euclides disse: "O Brasil não tem aqui uma bandeira de pano, mas tem uma mais bela e gloriosa, mais tocante na sua simplicidade". E, apontando para as folhagens verdes com flores amarelas disse: "Ali está a Bandeira do Brasil".
Todos ficaram muito comovidos. Era a voz do caboclo brasileiro que falava, Era um homem que conhecia e sabia descrever, como ninguém, a majestade das nossas paisagens e a grandeza da nossa gente.
Euclides só pensava na glória do Brasil. É assim que devem fazer todos brasileiros dignos
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Fernando Rodrigues Batista

Quem sou eu

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Católico tradicionalista. Amo a Deus, Uno e Trino, que cria as coisas nomeando-as, ao Deus Verdadeiro de Deus verdadeiro, como definiu Nicéia. Amo o paradígma do amor cristão, expressado na união dos esposos, na fidelidade dos amigos, no cuidado dos filhos, na lealdade aos irmãos de ideais, no esplendor dos arquétipos, e na promessa dos discípulos. Amo a Pátria, bem que não se elege, senão que se herda e se impõe.

"O PODER QUE NÃO É CRISTÃO, É O MAL, É O DEMONIO, É A TEOCRACIA AO CONTRÁRIO" Louis Veuillot