quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Em nome de Gil Vicente - Aos Pastores de Além-Tejo [1]


Hipólito Raposo*


Faz agora quatro séculos, muito mais anos do que dias tem um ano, morreu aqui em Évora, segundo se cuida, e enterrado seria no convento de S. Francisco, um grande português, chamado Gil Vicente, poeta dos mistérios do Céu, dos terrores do Inferno, da alegria e beleza da Terra, o melhor par de Luís de Camões que foi o maior cantor do Mar.
Esse Gil Vicente teve artes de ser autor e representador das primeiras peças de teatro português, nas quais, fora das igrejas, se começaram a mostrar as verdades de Deus, da Virgem e dos Santos, os pecados e as virtudes do nosso Povo, amores e namoros com outras diversas invenções que nesse tempo a todos faziam rir, ou conselhos, práticas e exemplos que ainda hoje nos dão que pensar.
Homem de coragem, atrevido, sem trave na língua e de bofes lavados, com todo o desembaraço ele fazia dizer às figuras no teatro aquilo que não podia declarar por boca ou por cartas, nem dar aos jornais, porque ainda não os havia.
Nas suas comédias em que aparecem a representar pessoas de quase toda a classe de família, ricos-avarentos e pobres de pedir, frades, fidalgos, lavradores, ratinhos, judeus, almocreves, além de anjos, santos e demónios, ele deu entrada e grandes honras às figuras de pastores da serra, do campo e da borda de água, fazendo até da Serra da Estrela uma pastora e falando em nome da Fama Portuguesa, urna rapariga da Beira, guardadora de patas.
E feito em vaqueiro, ele mesmo começou o teatro, vestido de samarras, com o sarrão, o tarro, a cabaça, o cajado, entrando no Palácio de Lisboa e dentro da própria sala em que a Rainha pouco antes tivera um filho e onde agora ia receber em companhia da Família Real, os parabéns e os presentes dos pastores, pobres, mas de boa-vontade: queijo, queijadas, leite, ovos e mel.
Deste modo que vos digo, o teatro português nasceu em casa de EI-Rei, e quem primeiro lá tem entrada são os pastores de gado, porque eles representavam ali todo o povo português, alegre e contente de ter nascido o herdeiro do Trono.
Esse principezinho que entrava no mundo, filho de D. Manuel, foi depois o Rei D. João III, e grandes honrarias quis ele dar a esta cidade, quando a côrte muitas vezes aqui assistia e com ela vinha Gil Vicente, até ao fim da sua vida, para ordenar e ensaiar as representações.
Ninguém ainda soube explicar este bem-querer de Gil Vicente aos pastores: talvez ele tivesse nascido e fosse criado no meio de rebanhos, lá por esses barrocos da Serra da Estrela, tão seguro se mostra a falar nas povoações e nos bons produtos dos gados da nossa montanha mais alta, como se dela fosse natural.
Mas, se por lá, não nasceu, também não há certeza, de entre aquelas que o desejariam ter por filho,
qual a terra portuguesa em que Gil Vicente mamou o primeiro leite.
Os pastores das herdades de Évora que ele bem conheceu e amiudou nas malhadas, nas ruas, nas feiras, e muitas vezes ouviu cantar nas cerimónias do Natal e da Semana Santa, esses zagais e zagalas, Gil, André, Brás, Isabel, Madanela, Catalina, ficaram a falar, vivos para sempre, nos livros de que agora se tiram variadas representações. Elas devem ser ouvidas de orelhas bem fitas, para podermos fazer ideia das falas e orações da Virgem e dos Anjos, dos gritos e roncos dos Diabos que correm a assaltar as almas, bons ditos do amor divino e humano, rixas e queixas, folias, danças do povo, bruxas e mulheres de virtude a engrolar os pacóvios, mazelas de alcoviteiras que são reses de mau pêlo, frades e padres de ruim exemplo, juizes tortos, fidalgos intrujões, enfim, fraquezas e misérias que sempre se viram no mundo, desde que Adão pecou.
A toda essa catrefa de gente ele quis dar o pago do castigo, ora chamando os diabos para ralhar com as almas na ocasião de darem contas a Deus, entre o Anjo da Guarda e o Demónio da perdição, ora despachando uns para o inferno, outros para o purgatório, de onde se mostra que já naquele tempo, quem quisesse comprar virtude, mal acharia quem lha vendesse.
Logo direitos para o céu, no teatro de Gil Vicente, só foram um pobre tonto, um menino inocente e os Cavaleiros da Ordem de Cristo que por Deus e pelo Rei batalhavam e morriam nas partes de África.
E se voltasse a este mundo a fazer mais representações, ele já teria de apontar o caminho do inferno aos próprios cavaleiros de Cristo que muitos deles, embora baptizados, já nem em Cristo querem crer...
Em tudo o que escreveu, vêem-se as figuras tão bem tiradas de seu natural, como se esse Gil Vicente antigo, por aí andasse ainda agora, são e vivo, por entre os alavões, a arremedar as ordens dos maiorais, as cantigas dos manteeiros em cima das cangalhas, com as correntes a bater nos cântaros de leite, por longas tardes e longas searas, a caminho dos montes.
Da boa opinião que ele tinha dos pastores, basta lembrar que, chegando à outra vida um deles e uma pastorinha quási inocente de todo o mal, o anjo da barca da glória manda-os padecer algum tempo no purgatório, até soar a hora de irem ambos para o céu. E quando o anjo repreende o pastor de não rezar, de não saber bem a doutrina, o rapaz respondeu-lhe com este mandamento que vós podeis ter de memória para o cantar:


Assaz avonda ao pastor
Crer em Deus e não furtar
E fazer bem seu lavor
E dar graças ao Senhor
E fugir de não pecar


Quem souber ler os livros deste Poeta, achará neles também falas de negros escravos que muitos havia cá em Évora, o papear de ciganos em trocas e baldrocas, ou de ciganas a ler as sinas, como ainda hoje acontece pela feira do S. João, no adro da Sé ou nas barracas armadas no Rossio de S. Brás.
Talvez alguns de vós, mais velhos, ainda ouvísseis contar a vossos avós ou a qualquer homem antigo o gosto que ficou aos pastores destes campos de Évora-Cidade, quando, há-de haver uns cinquenta anos, faziam representações uns com outros, pelas herdades que ficam para a banda de Arraiolos, nos montes da Sempre Noiva, da Tourega ou do Vale de Ricomem. Eram lembranças dos tempos de Gil Vicente, de quando esta cidade em festas reais, em riqueza nas casas e nas igrejas, foi a primeira de todas, fora de Lisboa; e em saber de letras, antigamente, só Coimbra valeu mais do que ela.
Hoje, capital do trigo, terreiro das feiras de gado, Évora vive de ser grande seara e grande malhada, e até parece esquecida dos altos estudos que nela houve, antes e depois de ter universidade.
Nem tudo o que Gil Vicente escreveu daria agora gosto em tornar a ver-se representado; mas pela leitura que vos disse, qualquer pode ter presente aos olhos todo o vivo que anda na terra, voa nas nuvens ou rasteja pelos brejos e junqueiras, e há-de parecer-lhe ouvir vozes e rumores das grandes folhas alqueivadas ou o remoinho alegre e verde das searas que bem afiguram a grandura e o desassossego das ondas do mar, para os que nunca puderem ter ido a Sines ou a Setúbal para o ver.
Os borregos, as vacas, os cães, os burros, as ovelhas e carneiros, as cabras e cabritos, os lobos, as raposas, as centopeias, os caracóis, as cegonhas, os milhanos, as rolas, as codornizes, as andorinhas, os galos, as abelhas as borboletas, as próprias moscas; o sol, o vento, a chuva, o pedrisco, a tempestade; os vales, as serras, prados, trigais, ribeiros e fontes; as flores e as ervas de cheiro - toda a lindeza das novidades e a galantaria da criação ali ficaram escritas e lembradas para sempre, enquanto houver gente portuguesa que saiba ler e gostar de ouvir louvores a Deus nos dias claros e limpos em que a cotovia se dobra e revira no ar, como novelo de cantigas.
Vós, pastores, que Gil Vicente considerava os homens de melhor moral e mais felizes naquele tempo, ainda hoje gozais urna sorte que os homens da cidade já não conhecem: a paz do campo.
Se com os vossos avós falavam nesse tempo os anjos, quando representados no teatro, ou, por caso de milagre vivo, o Criador Divino fazia descer à terra os seus mandados, assim também, ainda há vinte anos, segundo tem fé a maioria dos Portugueses,
falou a Senhora do Rosário a três pastorinhos na serra de Fátima, lá para as bandas de Tomar, distinguindo com tão grande graça as pessoas do vosso oficio.
Vós sois os últimos senhores para gozar a terra, ainda quando, zagais de alheio gado, vosso amo servis a contento. Donos ou servos as reses vos conhecem e vós as diferençais também, uma por uma; os cães vos seguem, e defendem os bardos dos lobos; o vosso cajado é vara de governo e de justiça, cada qual de vós é rei do seu rebanho de ovelhas, do seu fato de cabras, da sua vara de porcos.
Se alguns donos de terras as abandonam por amor das paredes e das luzes das cidades, ruim cabeça têm eles ou mau feitiço lhes deram, para não quererem gozar estes jardins que a mão de Deus plantou e a fartura deste banquete real, o pão, a carne, o leite, o vinho, os legumes e a fruta, dote do céu a todos prometido em galardão do trabalho.
O velho Gil Vicente não fez só aparecer e falar os pastores; às vezes dá-lhes urna grande dignidade pelas comparações que apresenta, chamando à Virgem Maria formosa zagala, pastora dos anjos, e pastor de pastores a um grande rei português, curral ao reino ou ao seu lar desfeito pela morte.
Assim diz a conversa de um auto pastoril, em que Gil pergunta a Brás:


Conheceste João Dom–ado
Que era pastor de pastores?
Eu o vi entre estas flores
Com grande fato de gado,
Com seu cajado real,
Repastando na frescura
Com favor da ventura:
Ó zagal,
Que é feito do seu curral?

Em falar de pastor, aqui tendes o louvor e a lembrança de Gil Vicente à pessoa e à pouca sorte de D. João II que muitas vezes viveu em Évora e que, sendo bem mais amigo do Povo do que da Nobreza, foi mestre na arte de reinar.
A esses pastores de algum dia, e a vós, pastores de hoje, não vos presta ter inveja de quantos por aí vos parecem mais felizes, porque, mesmo que o sejam, se eles não se cuidarem venturosos, tanto monta como serem desgraçados, sendo certo que a felicidade verdadeira todos a buscam, mas não a cobre neste mundo a rosa do sol.
Não queirais igualar a vossa sorte com a dos operários de Lisboa, que, se chegam a ter grandes jornas, as mais das vezes as gastam em tentações e pouco lhes fica para comprar pão de má mistura. Homens sempre avinagrados, a praguejar a sorte, querendo em tudo mandar sem obediência a ninguém, nem a Deus, às leis do mundo ou a quem tem de governar por todos. Comparados a eles, contentes corri a vossa soldada certa, com o pegulhal gordo e parelho, por essas herdades em que o céu poisa em redondo nas distâncias, no meio de pastarias de boa ervagern, com o chão coberto de pampilhos, de poejos, de margaças, de soagens, de ourégãos, vós sois os últimos portugueses que verdadeiramente ainda têm o gosto e a alegria de ser livres.
Da ruindade dos homens que matam e incendeiam, da malícia dos velhacos que vos roubam o dinheiro ou falseiam os pesos e medidas das vossas compras, muitas vezes, creio eu, vos há-de consolar a fieldade dos cães, a mansidão que cresce e se espalha dos olhos leais das ovelhas; e por esta comparação já tereis visto que é melhor viver com os animais do que com alguns dos nossos semelhantes, em quem a maldade, sempre nova, nunca está satisfeita.
Longe dos campos, nas praças, nas tabernas, nas fábricas, nos botequins, os homens do nosso tempo perderam o costume de erguer os olhos e dobrar os joelhos diante das maravilhas do céu: para eles quase não há sol, não vêem a lua, nem as procissões de estrelas em noites claras. Molestam-se com a chuva, como se fosse um mal, esquecendo-se de que, sem ela, não havia ribeiros, nem fontes, não rebentavam as árvores, não nasciam as ervas e as searas, não abriam as flores e tudo morria de sede e queimado pelo sol.
Sem saber ler, muitos de vós têm mais sabedoria do que os que só lêem maus papéis, pois todos conheceis o que importa à vossa vida, os caminhos e seus perigos, as mezinhas para as feridas dos animais e para as vossas, a boa qualidade do gado, o zelo de cuidar da mulher e dos filhos, o dever de trabalhar com honra no vosso mister, certos de que, associados em destino à lavoura, servis as grandes obras de dar de comer a quem tem fome e de vestir os nus.
Atrás de vós ninguém corre, não correis vós atrás de ninguém: de manhã à noite, passam carretas e automóveis na estrada ou aeroplanos no céu, os vossos passos são os mesmos, porque, louvores a Deus, ainda não se inventou máquina de guardar gado, para dispensar os cuidados dos vossos olhos pelas pastagens.
Ainda quando os donos fogem de viver na herdade, não podeis vós abandonar a terra, as reses, a borregagern, aceitando de boamente servir, pelos haveres e fazenda de uns, o vosso interesse e o de todos, e contentando-vos para encher as solidões da charneca com as vossas cantigas, os pífaros e os harmónios, música às vezes alegre como os tentilhões, se há sol claro, outras vezes triste, quando tudo esmorece nos dias pardos, em que o astro está búzio.
No terramoto que anda a destruir o mundo, vós sois aqueles que não negam obediência à voz do Criador, que contais e seguis, dia por dia, as estações do ano, que respeitais as leis da natureza, erguendo o vosso cajado acima da cabeça, sobre cães e gados, com tanto poder e glória de mandar, que nem o cetro real!
Por estas razões e dignidades, Gil Vicente, tão amigo de Évora e vosso amigo, escolheu pastores para falarem com os anjos das coisas divinais, e tudo bem considerou, quando meteu pastores e pastoras em perto de vinte peças de teatro, das quarenta e quatro que dele ficaram, desde a Visitação do vaqueiro até à Floresta de Enganos, última obra que fez e em sua vida se representou nesta cidade.
E também pela vossa rectidão e honra de trabalhadores, pela vossa fé de portugueses, de soldados, de filhos, pais e avós de soldados e marinheiros, por serdes a gente com menos defeitos e mais virtudes, bem merecestes que o Governo se lembrasse especialmente de vós para mandar também a Évora uma representação de teatro, dando animação e alegria à vossa terra e relembrando com justiça a glória de um Poeta que tanto amou e tratou com os pastores em tempos antigos.
Aqui vos diz estas palavras um homem que com a gente do vosso ofício, com os cavadores e pescadores, tem querido aprender a falar a nossa língua, melhor do que lha ensinaram nas escolas, e que, por única paga de aqui ter vindo, desejaria levar o contentamento de ser por vós entendido e aprovado. Ele dá-vos de todo o coração o seu louvor, por ainda serdes quem sois, e quer lembrar-vos que o Povo Português, nos seus tempos felizes, era unido, todos por um e um por todos, convencidos de que, na gente como nos rebanhos, ninguém pode igualar o que Deus desigualou, e que os homens se medem pela mesma dignidade, quando façam bem o seu mister, desde o carvoeiro ao juiz da comarca. Todas as classes de trabalho se igualam em merecimento, pela honra e crédito de quem o faz.
Dando-vos estas boas-tardes, ó Pastores de Alentejo, meus amigos, saúdo em vós, nas mulheres e filhos que tendes, nos pais que mantendes, as mais vivas e profundas raízes do sangue português, de quem nasceram as flores humanas dos guerreiros, dos mártires e santos da nossa história.
E recordando para melhor exemplo de hoje o Portugal glorioso de Gil Vicente e D. João III, preparemos todos com amor as almas para o renovo de amanhã, ensinando os filhos a amar e a defender da raiva dos homens-lobos, a terra da Pátria, esta grande e formosa herdade de todos os Portugueses!

18 de Maio de 1937.
(In Hipólito Raposo, Pátria Morena, Porto, 1937)


[1] Fala a um suposto auditório de pastores, numa herdade de Évora.


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José Hipólito Vaz Raposo, 1855-1953.
Advogado, escritor, historiador e político, natural de S. Vicente da Beira, foi um dos mais destacados dirigentes do Integralismo Lusitano.
Começou a sua carreira profissional como professor no Liceu Passos Manuel e no Conservatório de Lisboa.
Em 1919, era director do jornal A Monarquia quando desempenhou destacado papel no pronunciamento monárquico de Monsanto, vindo a ser demitido de todos os cargos públicos e a cumprir
pena de prisão em S. Julião da Barra (1920).
Exerceu advocacia em Angola (1922-23).
Reintegrado como professor no Conservatório (1926), defendeu a recusa de colaboração dos monárquicos à União Nacional (Partido Único) e ao regime do "Estado Novo", acabando por ser de novo demitido de todos os cargos públicos, e deportado para os Açores, na sequência da virulenta denuncia da "Salazarquia" que fez no livro
Amar e Servir (1940).
Subscreveu a reactualização doutrinária integralista «Portugal restaurado pela Monarquia» (1950).
Da sua produção como escritor integralista, merece destaque o ensaio que escreveu acerca da distinta matriz doutrinária do Integralismo Lusitano e do nacionalismo francês da Action française (Dois nacionalismos, 1925), bem como a conferência A Reconquista das Liberdades (1930), onde sintetizou o programa político do Integralismo Lusitano e procurou desfazer a miragem de messianismo salazarista que se anunciava.
Outras obras: Sentido do Humanismo, 1914; Aula Régia, 1936; Pátria Morena, 1937; Direito e Doutores na Sucessão Filipina, 1938; Mulheres na Conquista e Navegação, 1938; D. Luísa de Gusmão, 1947; Folhas do Meu Cadastro, 1º Volume (1911-1925), 1940, Idem, 2º Volume (1926-1952), 1986, etc..

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Fernando Rodrigues Batista

Quem sou eu

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Católico tradicionalista. Amo a Deus, Uno e Trino, que cria as coisas nomeando-as, ao Deus Verdadeiro de Deus verdadeiro, como definiu Nicéia. Amo o paradígma do amor cristão, expressado na união dos esposos, na fidelidade dos amigos, no cuidado dos filhos, na lealdade aos irmãos de ideais, no esplendor dos arquétipos, e na promessa dos discípulos. Amo a Pátria, bem que não se elege, senão que se herda e se impõe.

"O PODER QUE NÃO É CRISTÃO, É O MAL, É O DEMONIO, É A TEOCRACIA AO CONTRÁRIO" Louis Veuillot