Magnificat
(Cinco grandes odes”, 1907)
“Oh, os longos e amargos caminhos de outrora, do tempo em que estava só!
Caminhar em Paris, nesta, longa rua que desce para Notre-Dame!
Então, como o atleta que se dirige ao Estádio em meio a seus amigos e treinadores,
E alguém lhe fala à orelha, e o braço que abandona, e as luvas que lhe são ajustadas,
Eu marchava por entre os pés caídos de meus deuses.
Há menos murmúrios na floresta de Sant-Jean, no verão,
Menos gorjeio em Damasco, quando, ao ruído das águas que descem dos montes em tumulto
Se une o suspiro do deserto e a agitação dos altos plátanos à brisa da tarde,
Que palavras neste jovem coração cheio de desejos.
Oh, meu Deus, o filho da mulher vos é mais agradável que um touro novo.
E me encontro diante de Vós como um combatente que se curva
Não por se acreditar fraco, mas porque o outro é mais forte.
Vós me chamastes pelo meu nome
Como alguém que o conhecesse,
Vós me escolhestes entre todos de minha geração.
Oh, meu Deus, sabeis quanto o coração dos jovens é cheio de afeição e quando ele não se apega às suas máculas e vaidades
E eis que sois alguém, subitamente!
Aterrasteis Moisés com vossa força, mas estais em meu coração, assim como se eu não tivesse pecado.
Oh, como sou bem o filho da mulher! porque a razão, a lição dos mestres e o absurdo, tudo isso nada vale
Contra a violência de meu coração e contra as mãos estendidas desta criança.
Oh lágrimas! Oh coração fraco! Oh mina de lágrimas que correm!
Vinde, fiéis, e adoremos a criança que nasceu!”
Partage de Midi
<“Partilha do meio-dia”; 1905>
“Ao menos, vós, sabemos quem sois e com quem temos que nos avir.
Mas suponde alguém convosco.
Para sempre; e que se torne necessário tolerar em si mesmo um outro.
Ele vive, eu vivo; ele pensa e eu peso em meu coração seu pensamento.
Ele que fez meus olhos, não o poderei ver? Aquele que fez meu coração!
Não posso livrar-me dele. Vós não me compreendeis. Mas não se trata de compreender.
Uma palavra pode se compreender a si mesma?, mas, para que exista, é preciso que um outro a leia.
Oh, a alegria de ser completamente amado! o desejo de se abrir ao meio como um livro!
Em si mesmo apenas.
Ser totalmente claro, legível e sentir-se verdadeiramente
Pronunciado
Como uma palavra. sustentada pela voz e pela entonação de seu verbo.
Oh, o tormento de sentir-se soletrado como alguém que não chega ao fim!
Não me deixa repousar.
Fugi a esta extremidade da terra.
Eis-me em outra posição sobre o diâmetro, como alguém que
mede uma base para calcular uma distância astronômica
Longe da velha casa, como um ovo quebrado.
Eu que amava tanto as coisas visíveis. Oh, teria querido tudo ver, tudo possuir,
Não somente com os olhos, ou apenas com os sentidos, mas com a inteligência do espírito,
E tudo conhecer a fim de ser todo conhecido!
Mas Ele não me dá tempo. Eis-me em meio a esses povos e Ele me reencontrou,
E eu sou como um devedor que é perseguido e não sabe nem mesmo o que deve...
Que fazer? Onde está o meu pecado?
Sou chamado a dar
De mim mesmo, uma coisa que não conheço. Pois bem, eis todo meu ser! Eu me dou a mim mesmo.
Eis-me em vossas mãos. Tomais o que quiserdes...
Para ninguém sirvo a coisa alguma.
E é por isso que desejava entregar a Ele tudo o que possuía.
Ora, eu queria dar tudo,
Preciso retomar tudo. Parti, devo regressar ao mesmo lugar.
Foi tudo em vão. Nada feito. Tinha em mim
A força de uma grande esperança. Não a tenho mais. Não fui considerado apto.
Perdi a direção e a finalidade.
E assim sou reenviado, nu, com a vida antiga, seco, sem outra missão
Que a antiga vida por recomeçar, oh Deus! A vida separada da vida,
Meu Deus, sem outra esperança senão Vós que nada quereis de mim,
Com o coração ferido e uma aparente fortaleza”.
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