Juan María Bordaberry
Juan María Bordaberry, insigne Presidente do Uruguai no período mais difícil de sua historia (1972-1976), aos seus 78 anos de idade, mesmo tendo a causa Ter sido considerada prescrita, em total desrespeito aos prazos processuais e a segurança jurídica foi "processado" (lá é como cá, o velho ressentimento esquerdista, e ainda, maçônico) dia 16 de novembro de 2006 pela suposta prática de homicídios de legisladores da esquerda radical - em conivência por tanto com os terroristas que assolaram o país nas décadas de sessenta e setenta- ocorridos na Argentina (mesmo não tendo o caso sido esclarecido pela justiça deste país) em maio de 1976.
Sua única "culpa" foi ter desbaratado os planos dos terroristas "tupamaros" e seus cúmplices. E mais ainda, haver querido instaurar um regime (no qual tinha pensado submeter a vontade popular) que prescindisse dos partidos políticos e os substituiria por "correntes de opinião" em tudo de acordo com os princípios cristãos da ordem política.
Cremos no entanto, que o real motivo de sua prisão decorre de sua oposição e ataque a Franco-maçonaria. Maçonaria que em sua teses, estaria implicada nos mais importantes acontecimentos vividos pelo país desde sua fundação, incluindo os que viveu em sua condição de primeiro mandatário.
O processamento e a conseqüente prisão de Juan María Bordaberry foi precedido de um linchamento mediático, perpetrado pela imprensa esquerdista e em alguns casos também pela que se pode dizer de "direita" e de manifestações de integrantes do governo favoráveis a um pronunciamento nesse sentido.
Quando se soube da detenção, todos os ex-Presidentes da República e o então Presidente da República Tabaré Vázquez, se encontravam presentes em um evento da B' nai B' rith, loja maçônica judia. Na saída, o último dos citados, com um sorriso irônico, respondeu a repórter que lhe dava conhecimento do fato o qual se limitou a dizer "falou a justiça".
Uma bela entrevista com Juan María Bordaberry pode ser vista no site: http://www.panodigital.com/cronicas_de_nuestro_tiempo/entrevista_a_juan_maria_bordaberry_prisionero_politico_0
O Concílio Vaticano II, proclamou, direta ou indiretamente, três princípios: a liberdade religiosa (de consciência), a colegialização no governo da Igreja e o ecumenismo. Não sou o único que lê estes três princípios assim: liberdade, igualdade e fraternidade. Católicos eminentes, com autoridade que eu não posso pretender ter, também tem interpretado essa forma.
Com a liberdade de consciência a Igreja perdeu seu impulso missionário, a vocação de consagrar a vida a propagação da fé e abriu as portas para a tolerância do erro.
Hoje nos dizem que todos os excessos que vemos com tanta freqüência, na doutrina, na liturgia, na palavra e ainda na conduta de sacerdotes, são conseqüência de una interpretação errada dos textos conciliares. Não é assim: ao debilitamento da autoridade da Verdade segue inevitavelmente o crescimento da soberba do homem que começa a escolher seus próprios caminhos. E si a isto agregamos a substituição da organizacional piramidal e monárquica que N. S. Jesus Cristo deu a Sua Igreja pela desagregação funcional e até geográfica da nova organização conciliar, nada mais natural que ocorramos os excessos e que ninguém possa impedi-los nem menos impedir o dano que acarreta aos fiéis. Estes excessos vêm ocultando a condição sobrenatural da Igreja, hão temporalizado seu papel a favor de uma figura mais filantrópica que espiritual e religiosa.
"A fumaça de Satanás entrou na Igreja" disse o Papa Paulo VI ao cabo de sua vida, queira a misericórdia de Deus que arrependido da obra da qual foi o mais ativo protagonista. Com o Concilio, o liberalismo chegou ao poder temporal do último bastião que lhe era oposto por definição, e Roma começou a aceitar as formas políticas que ele consagra. Assim, quando chegam as instancias eleitorais, os sacerdotes e os bispos recomendam eleger bem os candidatos, não votando naqueles que, por exemplo, são partidários do aborto ou das uniões aberrantes entre pessoas do mesmo sexo (nota: não estamos tão certos disso, ao menos no que se refere ao Brasil). Mas não se vai mais adiante, como declara o "Syllabus", a condenar a ordem política liberal por si, por consagrar a substituição da Soberania de Deus pela soberania do homem, ao ato eleitoral mesmo por constituir a expressão dessa pretendida soberania que pretende ocupar o lugar de Deus.
Um inolvidável sacerdote da Fraternidade São Pio X que tivemos a benção de Ter entre nós, aqui em Montevidéu, pela força dos fatos somente esporadicamente, insistia em que, pela Graça, a Fé se manifesta internamente em nós sobre a forma íntima da adesão de nossa inteligência as verdades reveladas por N. S. Jesus Cristo e ensinadas pelo magistério da Igreja, e externamente por nossos atos visíveis quando eles dão testemunho de nossa Fé. Assim, quando oramos publicamente, quando constituímos de forma cristã nossa família, quando, em fim, com nossas obras damos testemunho externo da Fé que professamos em nosso interior. Negar este desdobramento, por assim dizer, interno e externo de nossa fé, nos conduz insensivelmente a heresia luterana. Parece então que não condiz com nossa conduta de católicos dar um testemunho contraditório com nossa Fé interior, participando publicamente em instituições políticas atéias que tem feito cair por terra as tradicionais sociedades cristãs, legitimando com nossos atos o que é de per si condenável.
Um pouco antes das desditas eleições espanholas de março de 2004, pude ver na página da Internet do Foro Santo Tomás Moro da Comunhão Tradicionalista Carlista, assim como em outras, divergências entre carlistas acerca da participação ou não nas mencionada eleição, sem que se rechaçasse as eleições em si mesmas, como ato contrario aos princípios cristãos. Estas divergências se evocam agora e com maior dureza com motivo do surgimento do novo partido chamado "Alternativa Espanhola" sem que ninguém advirta, para começar, que a própria expressão "partido" contradiz a vigência insubstituível do principio de autoridade fundado no direito natural, que não pode admitir a hipótese de uma derrota numérica.
O que me atrai do carlismo e me leva a defende-lo e tratar de difundi-lo dentro de nossas pequenas possibilidades é precisamente sua Santa Intransigência na proclamação e defesa dos princípios fundadores da Espanha e por conseqüência, da Hispanidade toda.
A historia da Espanha é pródiga em exemplos da necessidade de defender a Fé intransigentemente, sem fissuras nem resquícios nem concessões. Nega a Hispanidade, na qual orgulhosamente me incluo, a aceitação do moderno conceito ateu de pluralismo. Una fides, unum regnum proclamou o Concilio III de Toledo há mais de quatorze séculos, e esse preceito —que regeu sua historia durante quase todo esse tempo— deu a Espanha um caráter próprio, único e distintivo que, torna difícil de explicar e entender por quem não a conhece e, nos obriga a trabalhar para restaurar seus valores históricos por inteiro e projeta-los para fora e não deixarmo-nos invadir por aquilo que é distante e contrário a natureza hispânica.
"É indigno que um príncipe de fé ortodoxa tenha sobre seu cetro a súbditos sacrílegos", reafirmou logo o Concilio Toledano VIII. Estes preceitos foram o fundamento da obrigação dos Reis Católicos, como tais, de não aceitar moros nem judeus não conversos na Espanha. Não foi nem conveniência mesquinha nem maldade: foi a vigência da Fé Católica que fez grande a Espanha.
Tampouco foi cruel: a grande Isabel deu a todos a oportunidade de converter-se o se debandar para outra parte levando sua família e seus bens, para o que dispôs até barcos a sua disposição e inclusive aceitou comprar generosamente seus bens. Milhares de judeus convertidos ficaram na Espanha e contribuíram em escrever a história de sua grandeza. Vale a pena ler as admiráveis páginas que Dom Luis Suárez Fernández escreveu a respeito. Isabel, católica, bondosa, reta e justa, não fez senão cumprir sem concessões o principio cristão, o que lhe granjeou o ódio da heresia, que ainda perdura nas lendas negras. Participar das instituições liberais, cara a cara com os inimigos de Deus, é aceitar o pluralismo e negar implicitamente a obra de unidade católica e política de Fernando e Isabel.
Ainda que as guerras carlistas se iniciam pela questão dinástica originada pela decisão de Fernando VII que impediu o acesso ao trono do infante D. Carlos Isidoro, que houvera sido Carlos V, seria burrice pensar que todo termina nessa questão nessa questão. O carlismo advertiu desde muito cedo que negar o trono a um Rei tradicionalista e deixar a Coroa nas mãos de uma pequena representada pela Jovem Regente era abrir a porta ao liberalismo e obstar a continuidade da vigência dos princípios: Deus, Pátria, Fueros e Rei. Se o "alzamiento" houvesse respondido somente a questão dinástica o carlismo não haveria mantido sua vigência até nossos dias havendo sido, ademais, derrotado nos campos de batalha.
Espanha pois, se nega obcecadamente a transigir com os dissonantes princípios liberais, estranhos a sua substancia histórica e religiosa. Algo que não posso compreender é como se poderia conciliar a proeza do tradicionalismo carlista com a participação em instituições liberais.
Não posso deixar de recordar um memorável trabalho de Don Rafael Gambra, a quem Deus tenha em sua glória, publicado já há alguns anos em "Razón Española". Nele se perguntava, vendo sua Espanha entregue ao liberalismo maçônico contra o qual havia sangrado na guerra, como era possível que aquele terreno — recordo que dizia: conquistado colina a colina, cota a cota — se entregou tão fácil e silenciosamente ao inimigo derrotado.
Do Vaticano II havia saído o principio contrário a tradição espanhola, a liberdade de consciência. Franco teve que ceder a pressão de Paulo VI e aceitou a liberdade de cultos. Não estava proibido na Espanha professar outros cultos que o católico: estava proibido faze-lo publicamente e difundi-lo. Estava proibido, como manda a lei de Deus, difundir o error. Por essa abertura do pluralismo religioso se infiltrou o inimigo, silenciosa e astutamente.
Don Rafael, com dureza navarra, intitulou seu trabalho "A traição dos clérigos".
Juan María Bordaberry
Montevidéu — Uruguai
Montevidéu — Uruguai
4 comentários:
Estava certo de eatar a ler um blog monarquista e conservador português - qual foi não minha surpresa ao descobrir que se trata de matéria produzida e editada no Brasil.
Parabéns pela limpidez de raciocínio e pela clareza na exposição de idéias.
Todavia, citarei apenas dois casos em que a Igreja ficou a descoberto:
1) O caso Dreifus (o traidor nao era o capitao judeu, mas um oficial católico e pertencente a alta-burguesia, que aparentemente precisava ser protegido). No centésimo aniversário do J´accuse, o jornal católico La Croix reconhece o erro da Igreja no caso. A pergunta que nao quer calar é a seguinte: onde fica a legitimidade moral de uma igreja e de um governo de direita que pecam tão barbaramente contra a Justiça?
2) Há ainda quem creia, como a Igreja à época de Cesare Bonesana, que deve haver, por exemplo, uma lei para os nobreza (hoje substituída pela burguesia), outra para o clero e uma terceira para o povo? Pois essa me parece uma das consequências óbvias daqueles que negam o princípio da igualdade de todos perante a lei.
No Antigo Testamento vemos que todo o povo de Israel esteja sujeito à Lei e aos Profetas, não havendo distinção, no caso, entre nobre e plebeu. E essa percepção de igualdade é milhares de anos anterior aos princípios da revolucionários de 1789.
Pessoalmente, creio num D´us que não faz acepção de pessoas - e numa lei que caminha nesse sentido.
Quanto à Igreja, creio que foram suas atitudes reacionárias ao longo dos séculos que, infelizmente, talvez tenham minado sua credibilidade.
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